Coxinha Ilustrada: persona non grata

Persona non grata (Latim, no plural: personae non gratae), cujo significado literal é "pessoa não bem-vinda", é um termo utilizado em diplomacia com um significado especializado e judicialmente definido.

Sob a Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas, artigo 9, um Estado pode declarar "em qualquer altura e sem necessidade de justificação" qualquer membro dos emissários diplomatas como persona non grata — i.e., não aceite (enquanto que persona grata significaria aceitável) — mesmo previamente à sua chegada ao Estado em questão. Geralmente, a pessoa é recambiada para a sua nação de origem. Caso isso não aconteça, o Estado "poderá recusar-se a reconhecer a pessoa como membro da missão".

Fora do âmbito da diplomacia, chamar alguém de persona non grata é equivalente a dizer que a pessoa está excluída, isolada, desprezada. Aquela pessoa não é bem vinda.

Bem, ontem (sábado, 08/12/2012) foi a ultima edição do Coxinha Ilustrada. O Coxinha Ilustrada é um encontro de ilustradores, talentosos ou não (não iremos discutir isso aqui rsrsrs), que produzem ou curtem a ilustração. Desenhos, tirinhas, animações, design, artes visuais, peças publicitárias, ambientes gráficos e jogos, quadrinhos, etc, etc, etc... 

Mas, não é só para ou por eles que este encontro acontece. No Coxinha Ilustrada reúnem-se pessoas do design, da informática, da comunicação, da moda, escritores e leitores, nerds e geeks, assumidos e enrustidos, sedentários, hiperativos e hiperbólicos, brancos, pretos, azuis e até esverdeados, artistas natos, aspirantes e admiradores, jovens senhores, garotos barbados, pin-ups e crianças imberbes. 

Sim, eu poderia ficar horas descrevendo a pluralidade desde grupo, o qual se reúne por afinidade: discutir desde as emocionantes aventuras de Backyardigans e O Fantástico Mundo de Bobby, passando pela filosofia do último episódio dOs Simpsons e os surtos do Pica-Pau, até o posicionamento estratégico da comunicação e representações icônicas das organizações perante seus públicos-alvo. Complexo, não?

Tudo isso permeado por muitas risadas, aguadas de nanquim, grafites, notebooks, sketchbooks, folhas de cadernos, contos fantásticos, livros, revistas, quadrinhos, séries de TV, trilogias, thrillers, muita Coca-Cola e, claro, COXINHAS – várias coxinhas.

Bom, agora que já sabemos o que significa "persona non grata" e o que é o "Coxinha Ilustrada" inicio meu post. Por que "persona non grata"?

O Coxinha Ilustrada acontece numa reconhecida Panificadora e Confeitaria em Foz do Iguaçu, PR – vou chamá-la de "X". Um lugar bacana com cardápio legal, ar condicionado, espaçoso, bem iluminado, muito bem localizado, acesso à Internet, etc. Enfim, um lugar ideal para reunir gente boa a fim de realizar boas coisas. Só que não!

Ontem, no fatídico dia, fomos convidados a nos retirarmos do ambiente, sob a justificativa de que ocupávamos muito espaço e consumíamos pouco. A relação "ocupação espacial" versus "volume de pessoas" é algo que não consigo contrariar, já que há questões metafísicas que me impediriam de tal feito. Afinal, se somos muitos ocupamos muitos espaços. Certo? Quanto à questão "baixo consumo", conforme o art. 39 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), nenhum fornecedor pode impor limites quantitativos de consumo aos seus clientes, portanto, também não irei discutir esse ponto, ok?

Afinal Robson, quais pontos você quer expor neste post? Quero falar de relacionamentos aproximativos e oportunidades estratégicas jogadas ralo abaixo. Bora lá?

Uma vez ao mês o Coxinha Ilustrada é realizado. Somos um grupo rotativo, nem sempre todos os participantes estão todos juntos. Creio que no total somamos umas 40 pessoas, aproximadamente, que se revezam entre idas e vindas, discussões e coxinhas em agrupamentos menores de 10 ou 20 pessoas.

Numa conta simplista, somando a cada pessoa dois novos acompanhantes teríamos 120 pessoas. Pessoas essas que seriam levadas por indicação, para que conhecessem o cardápio, o espaço, o atendimento, etc. Estamos falando de experimentação. Cento e vinte potenciais clientes angariados de forma passiva, já que foram levados pelo encontro Coxinha Ilustrada.

Mesmo que pequena, temos aqui uma rede de consumidores cujo custo para sua arquitetura foi inexistente ou bastante baixo, além do que, se mantivermos o raciocínio de que para cada pessoa dois novos acompanhantes seriam levados, essa rede poderia se expandir em progressão geométrica de razão dois, certo? Caberia, portanto, ao empresário tão somente fidelizá-los.

Não bastasse isso, dentre a pluralidade do grupo Coxinha Ilustrada, 80% (senão mais) são profissionais vinculados às agências de comunicação da região, atuantes no Parque Tecnológico, jovens empresários, profissionais de grandes instituições públicas e organizações privadas, ativistas dos movimentos culturais e de ações desenvolvidas pelas associações da cidade, enfim, pessoas diretamente vinculadas às mídias locais, formação de opinião e mobilização da opinião pública.

Isso significa que a atitude da Panificadora e Confeitaria "X", declarando o Coxinha Ilustrada como "persona non grata", além de inviabilizar a formação de uma rede de consumidores, deturpou sua própria imagem frente a um grupo formador de opinião. O movimento da empresa foi exatamente contrário às estratégias de relacionamento aproximativo. O mutualismo era um fato, bastava boa vontade. Nós já estávamos lá e ao invés de sermos convidados a compor a estratégia de posicionamento da empresa, fomos convidados a sair dela.

Muitas empresas investem altas quantias em ações de comunicação e marketing para captação de clientes, experimentação em PDV, fidelização e construção de relacionamentos com formadores de opinião. A postura adotada pela Panificadora e Confeitaria "X", a mim, mostra-se estrategicamente míope senão kamikaze.

Embora a narrativa do post seja de desabafo frente a uma situação constrangedora vivida por nós, o alerta aqui vale para os empresários que se debruçam em planos de mídia e altos orçamentos para consolidar sua imagem e identidade no mercado. Por vezes, a diferenciação estratégica já está no seu estabelecimento empresarial, basta que seja vista, valorizada e empoderada.

Obs.: Optou-se por omitir o nome da Panificadora e Confeitaria para evitar qualquer constrangimento. Acreditamos que seremos procurados para revermos o local dos nossos próximos encontros, se não por ela, por outros empresários de Foz do Iguaçu.

This entry was posted on domingo, 9 de dezembro de 2012 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Responses are currently closed.