Da discordância que pode gerar concordância.*

Pessoal hoje vou escrever sobre algo muito legal que aconteceu e está acontecendo de forma espontânea no Facebook. Só para contextualizar, há alguns dias postei uma pergunta no grupo de Relações Públicas com um questionamento que sempre esteve comigo:

Relações Públicas é comunicação??? Depois de 4 anos de formado, trabalhando na área, este questionamento não sai de minha cabeça!! Cada vez que acho que me convenço, acontece algo que muda meu raciocínio....e vocês, o que me dizem?? Quero ver o ponto de vista de vocês.

Quando postei imaginei que poderia dar alguma polêmica, mas realmente não poderia imaginar que os desdobramentos seriam tantos e de tanta qualidade!! No momento em que escrevo este post (18/06) o tópico está com 153 comentários em 5 dias de discussão, com cerca de 20 pessoas defendendo seus pontos de vista com argumentações profundas embasadas em suas experiências. Acredito que dentre todos que estão discutindo, a maioria absoluta está atuando no mercado de trabalho, vivendo de Relações Públicas, exercendo todo o escopo de nossa atividade. Esta característica coloca o que está sendo dito como algo muito atual, contextualizado, e se não chegarmos a um ponto comum, pelo menos encontraremos questionamentos comuns, identificaremos pontos que valem a pena maior atenção nas pesquisas de nossa área pois, aí sim, os desdobramentos desta conversa poderão e serão materializados em mudanças no entendimento da complexidade que é Relações Públicas, abrindo nossa profissão para novas formas de atuação profissional.

Acredito que estes desdobramentos possibilitarão o repensar de nossa profissão, pelo menos para aqueles que estão envolvidos, auxiliando na construção de um entendimento mais amplo de nossa atividade. Ao defender que RP é mais complexo que suas atividades especificas é que poderemos auxiliar no processo de construção de imagem da profissão, evitando posturas comuns como de divulgação de vagas de RP de forma genérica esperando um Organizador de Eventos, porém sem especificar isto no edital de contratação. Podemos mostrar com este posicionamento que RP pode ser Gestor de Projetos como por exemplo os de Responsabilidade Socioambiental, e não somente produtor de materiais de Comunicação Interna, Institucional, Mercadológica etc.

Já como um primeiro resultado desta discussão vejo surgir pontos que corroboram e denotam mudanças que, apesar de falarmos sobre RP, acontecem com a mesma intensidade em todos os campos da Comunicação: ter a missão da profissão repensada por conta da nova dinâmica de relacionamentos; ter necessidade crescente de ser mais multidisciplinar, aproximando-se de diversas outras áreas do conhecimento. Visto isto, questiono se o foco da pergunta não está errado, será que ao invés de analisar o que é RP, deveríamos analisar o que as Relações Públicas deveriam ser?

Encontro embasamento para este novo foco na fala de Paulo Nassar, um profissional que admiro muito desde minha graduação. Nassar está indicando o caminho aos poucos, destaco dois artigos produzidos para a Aberje onde ele explora esta mudança:

Comunicação: a hora de repensar

Miopia Pura


Destaco aqui os trechos que considero importantes e algumas reflexões minhas:

“Neste contexto, do que se denominou sociedade de massas industrial, as relações públicas e o jornalismo se transformaram em feitores de diálogos e relacionamentos.”

* Será que estas profissões estão acompanhando a mudança em nossa sociedade, largando o papel de feitores e assumindo o papel de promotores de diálogos e relacionamentos?

“Agora todos produzem e veiculam as suas opiniões, nem sempre convergentes com as das empresas. É uma sociedade de muitas vozes. Um universo autoral, que não deixa de ser uma retomada do caráter artesanal da comunicação, que deve procurar se assentar em narrativas mais ricas e abertas (míticas). A grande questão parece ser de como o comunicador se posicionará numa época de grande vontade democrática e articulação entre os chamados públicos sociais.”

* Esta Sociedade de muitas vozes valoriza o papel do Relações Públicas como Promotor de diálogos e Relacionamentos, colocando em destaque as funções analíticas (pesquisa, mensuração ou seja, a atividade de OUVIR!!) de nossa profissão.

“Neste ambiente, perdem o sentido e a sustentação teórica e prática as denominações comunicação organizacional, empresarial, integrada, mercadológica, corporativa, entre outras conhecidas, que definem territórios e práticas, que tinham algum significado na sociedade industrial, mais lenta nas transformações políticas, econômicas e tecnológicas.”

* Profundo não? Desconstrói um conhecimento que temos tão arraigado. Este novo ambiente força uma nova postura dos profissionais de comunicação, alterando todo o processo de criação das estratégias de relacionamento.

“A ciência da comunicação analógica e digital é constituída de um pensamento mais do que suficiente para dar significado para os processos comunicacionais, que acontecem no território que juntou empresa, instituição e sociedade. Comunicação Organizacional não é uma nova ciência autônoma. No máximo, é um metasistema, que tem sua identidade definida em suas relações com a Administração, a Psicologia, as Ciências Sociais, a Antropologia, a Política, a História, a Filosofia. A Comunicação Organizacional tem um arsenal teórico capenga. É uma reciclagem e resignificação pobre das inúmeras teorias da Comunicação. A comunicação organizacional atual é a miopia das relações públicas e do marketing. Caso seja necessário beber em alguma fonte, que seja nas fontes de água pura e de mestiçagem relacional e comunicacional.”

* O que precisamos reconhecer é toda a “mestiçagem” da qual somos compostos, estudando com profundidade estas inter-relações, que são o que constrõem o campo de Relações Públicas.

Não coloquei mais este ponto de vista na discussão para tirar o mérito ou desqualificar o que foi dito, mas sim para adicionar outro viés no momento em que formos interpretar estes dados de uma forma mais abrangente, levando em consideração a “sociedade de muitas vozes” como fator de reposicionamento do próprio profissional!

Agradecimentos a todos que fazem parte do grupo de Relações Públicas do Facebook, em especial àqueles que contribuíram com as discussões em meu questionamento.

Para constar, estamos com a proposta de criar um artigo com as reflexões sobre nossa profissão de forma coletiva, quem quiser participar é só acessar este link. Peço somente que não apaguem o que está lá e que se identifiquem em suas alterações. No mais, vamos lapidar a metodologia de criação deste artigo no grupo de discussão de Relações Públicas.



* O título deste post foi composto pelo Diego Galofero.

This entry was posted on terça-feira, 28 de junho de 2011 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.