Já pensou em ser Relações Públicas??

Há a algum tempo venho questionando o paradoxo entre a “a importância de se compreender um pouco de tudo” e a valorização de "profissões" focadas em funções mais especificas. O profissional de hoje deve entender de tudo, porém sua atuação deve se ativer somente há algumas atividades ou focos específicos? Não é um pouco contraditório exigir um tipo de ‘especialização generalizada’ a todos as profissões? O artigo Já Pensou em ser Glaciologista que gerou bastante controvérsia citando a profissão de Relações Públicas como uma das que estão fadadas ao ostracismo, reforçou, a meu ver, a mensagem de que profissões com um leque amplo de possibilidades, com caráter mais generalista, estão com o "futuro ameaçado" por outras mais especificas, o que por si só é outra contradição, pois o artigo defende as generalidades, citando cargos com atuação e conhecimentos mais focados e específicos! Esta não é uma discussão nova. Será que não estamos confundindo as coisas ao criar tantas "novas profissões" baseadas em necessidades atuais, sem antes olhar e conhecer realmente aquelas que estão aí há algum tempo, desempenhando atividades eficientemente. Vemos tantas "novas profissões" baseadas em funções já existentes e esquecemos-nos de olhar para aquelas que efetivamente já desapareceram. Desta forma estamos tentando adivinhar o futuro sem antes analisar o passado, para entender realmente como funciona esta dinâmica de novas necessidades e novas profissões.

Por isto questiono estas discussões sobre profissões novas, e também o porquê que quase sempre são os mesmos nomes que aparecem. Por que não vemos a Administração aparecer como profissão alvo de extinção?

Acredito que existam duas demandas de profissionais: os mais "generalistas" e os mais especializados, e que não necessariamente façam parte de uma "nova profissão". O mercado ainda precisa tanto dos Generalistas quanto dos Especialistas, pois atuam em esferas diferentes e complementares. Vejo que um dos grandes problemas é a capacidade de análise dos empresários para as próprias necessidades, justamente no momento de definir com exatidão as capacidades e a função exata que o profissional irá desempenhar na empresa, para, posteriormente buscar entre as opções de profissões existentes qual a que mais se adequa às necessidades atuais.

Outro ator com muita importância nestas discussões sobre "profissões moribundas" é o próprio profissional, que talvez por imaturidade, ou mesmo por falta de capacitação, não tenha a real visão de sua profissão, da amplitude de oportunidades de atuação que ela proporcionará. Ele pode ajudar ou afundar de vez sua profissão, ampliando ou acabando com a miopia nas definições. Além disto, o profissional deverá conseguir visualizar claramente as diversas opções de atuação que ele poderá ter com seu ofício, englobando desde algo mais generalista, mais aplicável para cargos gerenciais, até algo mais especializado, direcionado aos analistas e especialistas. Neste ponto cabe ao profissional identificar o seu perfil pessoal, para verificar em quais destas possibilidades ele tem maior intimidade.

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Na área da Comunicação Organizacional, que é meu objeto de estudo, esta diferença nas definições é ainda mais acirrada por outras profissões que são complementares, porém que alguns profissionais ainda tentam divulgar com uma visão mais centralizadora, nomeando-se a "mais estratégica". Esta briga é igualmente ruim para todos os lados, pois quando tentamos engolir outras áreas que não são verdadeiramente nossas, acabamos por realizar um trabalho incompleto, esquecendo de aproveitar especialidades intrínsecas à nossa própria profissão. É tentando segurar o mundo que acabamos não conseguindo segurar nada!

Apesar de não enquadrar o Marketing na área de Comunicação Organizacional, mas sim da Administração, irei utilizá-lo como exemplo para demonstrar o meu raciocínio. Acredito que esta é uma das profissões em que a essência estratégica esteja sendo deixada em segundo plano, pois o atual posicionamento, na maioria das vezes, está centrado somente em funções táticas e específicas como os conhecidos 4 P´s, deixando de lado todo o Processo da Estratégia de Marketing que vai além do composto básico. Ou seja, neste caso está ocorrendo uma supervalorização das funções específicas, deixando de lado as funções mais generalistas, que dão uma visão mais ampla de todo o processo de Marketing.

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Devemos reconhecer as potencialidades e as especialidades de cada profissão. Analisemos com cautela as necessidades do mercado, pois ora é preciso um profissional generalista para atuar em um cargo mais gerencial, ora é necessário um profissional analista, para atuar pontualmente em um processo que ele é especialista.

Informação pode sim ter se tornado uma commodity, porém o conhecimento definitivamente não. O processo de construção de conhecimento vai além de somente recepção e coleta de informação, tornando-se cada vez mais valorizado aquele que sabe utilizar de forma estratégica o conhecimento adquirido.

Ramon Fernandes

Planejamento e Comunicação.

This entry was posted on quarta-feira, 24 de junho de 2009 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.

One Response to “Já pensou em ser Relações Públicas??”

Ocappuccino.com disse...

Ótimo texto. Hoje em dia devemos ser especialistas em gerenalidades, tendo em vista que 'especialismo é saber-se cada vez mais de cada vez menos até saber-se tudo de nada; do mesmo modo que generalismo é saber-se cada vez menos de cada vez mais, até não se saber nada de tudo.' (William James). Realmente este infeliz texto 'Já Pensou em ser Glaciologista' rendeu bastante comentários n'Ocappuccino.

Abraços,
Mateus d'Ocappuccino