Na Nokia, falar 'mal' da companhia dá recompensa




Jack Ewing, BusinessWeek, de Frankfurt22/06/2009



No terceiro trimestre de 2008, a Nokia estabeleceu uma intranet chamada Blog-Hub, abrindo a rede aos funcionários blogueiros de todas as partes do mundo. Escrevendo sob pseudônimos como "Hulk" e "Agulha", os funcionários podem ser cruéis, atacando seus empregadores por tudo, desde as práticas de compras à velocidade do software dos celulares. Em vez de "acabar com a festa", os administradores da Nokia querem que eles "botem tudo para fora". Nenhum líder carismático, gênio, algoritmo ou peculiaridade cultural explicam o domínio da Nokia no mercado de celulares. Em vez disso, pessoas da companhia creditam seu crescimento a um histórico de encorajamento para que os funcionários falem tudo o que pensam, sob a crença de que isso produz ideias melhores. "Eu acho que não dá para impor a inovação", afirma Mary T. McDowell, vice-presidente da Nokia responsável pela estratégia empresarial, incluindo pesquisa e desenvolvimento (P&D). "Nosso papel é manter as engrenagens lubrificadas."

Especialmente agora. Embora a companhia finlandesa controle 38% do mercado mundial de celulares - duas vezes a participação da número 2, a Samsung - ela perdeu uma liderança ainda maior nos telefones inteligentes. A Nokia lançou o primeiro "smartphone" do mundo, o Nseries, em 2005, dois anos antes do iPhone, da Apple. Apesar dessa vantagem inicial, sua participação no segmento caiu para 37% no primeiro trimestre, ante 41% no mesmo período de 2008, com a Apple e a Research In Motion (RIM), fabricante do BlackBerry, conquistando clientes com aparelhos mais fáceis de usar.

Os lucros no trimestre também caíram 96%, para US$ 121 milhões, depois que consumidores de todas as partes do mundo suspenderam as compras de celulares. A receita caiu 27%, para US$ 12,6 bilhões, forçando demissões em uma companhia que durante anos só contratou. A Nokia fechou um centro de pesquisa e desenvolvimento na Finlândia este ano e está demitindo mais de 2 mil funcionários no mundo.

Mas a companhia está mantendo totalmente sua rede de laboratórios em outros lugares, incluindo Helsinque, Pequim e Palo Alto, na Califórnia, e continua aumentando os gastos gerais com pesquisa e desenvolvimento, que atingiram 16,2% das vendas no primeiro trimestre. "Qualquer companhia inteligente do setor de alta tecnologia sabe que os investimentos em P&D não podem flutuar como os investimentos em outros negócios", afirma Henry Tirri, diretor do Nokia Research Center. "Pesquisa é longo prazo."

A empresa aumentou os gastos com P&D em 35% de 2006 a 2008, para US$ 7,6 bilhões, o equivalente a 12% de sua receita anual de US$ 50,7 bilhões. Quase um em cada três funcionários trabalha com pesquisa, o equivalente a 39 mil pessoas A Nokia estabelece desafios, como inventar um serviço baseado na localização física de um cliente ou criar um invólucro de celular que não suja. Os vencedores desses desafios podem ganhar bonificações a cada seis meses.

Para reconquistar o terreno perdido, a Nokia está lançando novos produtos. Seu celular 5800 XpressMusic (que funciona com toque de tela) já vendeu 3 milhões de unidades desde o lançamento, em novembro. A companhia começa a vender este mês seu top de linha N97, que vem com tela sensível ao toque e um teclado deslizante em miniatura. E a Nokia está prosseguindo com seus esforços em mercados emergentes como a China e a Índia, onde seus concorrentes americanos não são grandes.

A empresa também está executando uma sugestão vinda do site Sphere, onde os funcionários são convidados a oferecer ideias para os produtos. Em outubro, um representante de vendas da China perguntou por que as "canetas" que acompanham os aparelhos com tela sensível ao toque são sempre cinzas. Ainda este ano a Nokia começará a vender modelos com canetas de várias cores. Ouvir as pessoas reclamarem pode ser cansativo, mas a Nokia prova que é importante manter os ouvidos abertos: você nunca sabe o que poderá descobrir.




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One Response to “Na Nokia, falar 'mal' da companhia dá recompensa”

Fabio Procópio disse...

Realmente, dar voz a quem nem sempre é ouvido parece simples, mas não é..E gera muitos resultados. ótima estratégia.

Abraço
Fabio Procópio
www.fabioprocopio.wordpress.com