Como transformar funcionários em fãs





A 2. Conferência de Comunicação Interna da IQPC mostrou que a área é preocupação central em organizações dos mais diversos segmentos e portes. O capital humano, também por se conformar num ativo intangível forte, é cada vez mais parte fundamental das estratégias de negócio e seu engajamento pode ser estimulado por ações de informação, diálogo e relacionamento. Foi o que se viu em mais de 20 atividades diferentes nos dias 25 a 27 de novembro de 2008 no Hotel Meliá Jardim Europa em São Paulo/SP, através das melhores práticas de empresas nacionais e multinacionais.

A gestora de Comunicação Corporativa para América Latina da Voith Siemens, Renata Presta, entende que não dá mais para levar ferramentas da década de 80 para um cidadão completamente mudado. A grande questão é quem são os clientes e o que interessa e funciona para eles. Há uma mistura de pessoas internas e externas à organização, não existindo mais limites claros, o que exige uma comunicação coerente e alinhada a partir da capacidade intelectual e de raciocínio do comunicador. “Temos que ser menos técnicos e mais estratégicos, tendo uma visão mais holística”, defende.

Na Voith, a proposta de diálogo se dá por um comitê, integrado por 10 a 15 funcionários representantes de todos os setores, independente da hierarquia ou função e acolhendo a comunicação formal e informal circulante. O grupo auxilia no planejamento e na implementação da comunicação interna, com reuniões quinzenais. Para focar os debates, foram criados comitês por conteúdo – comunicação com o mercado, pautas, inteligência competitiva - que trocam informação permanentemente em “sharepoints” na rede interna da empresa. Na mesma linha, um concurso de causos e lendas foi lançado para incentivar a conversação, o resgate da memória como um pilar de sustentação institucional pela valorização da história, da cultura e das pessoas, afora um programa de visitas que exerce a preferência pela troca face-a-face. Um trabalho constante está em mapear os líderes naturais, não estabelecidos por cargos mas por capacidade de mobilização. Ela cita pesquisa da Coach Leadership que diz que gestores com habilidade de comunicação e freqüência na divulgação de novidades na empresa são mais valorizados pelos empregados. Uma pesquisa de clima também é sempre aplicada para parametrizar o planejamento e a ação da gerência, porque são indicadores que mostram o resultado do relacionamento.

PROTAGONISTA - O diretor de Comunicação da Atento, Luis Alcubierre, também trabalha nesta linha de cooperação com seus 72 mil funcionários. Para ele, a comunicação colaborativa é a requisitação da contemporaneidade, dividida entre vários agentes na criação e na difusão de conteúdos, sob a inteligência institucional de profissionais da área. Assim, o setor de comunicação ganha escala, participação, legitimidade e crescimento. O desafio é mobilizar as pessoas, criar sonhos para ser a linha de conduta ao longo do tempo, repensando a cada contexto histórico o entorno organizacional sob a liderança de um gestor. De objetivos surpreendentes a concretos, de objetivos emocionais a mensuráveis, o incentivo ao engajamento sempre precisa ser alto. “Tudo acontece para que nossos funcionários virem nossos fãs”, compara.

Ana Cristina Santos, gerente de Comunicação Interna da empresa, reforça a necessidade de implementar ações centradas no colaborador como protagonista. A diversidade sexual, racial, religiosa e cultural da equipe precisa ser considerada, até porque a base de uma empresa de serviços são as pessoas. O início deste enfoque foi numa data comemorativa em 2005, com 60 participações no envio de frases e fotos alusivos a um tema, chegando a quatro mil participantes no Dia do Tele-atendente no mesmo ano, numa progressão planejada por incentivos e reconhecimentos públicos aos vencedores de cada campanha. Hoje, ela revela que acontece uma média de 14 mil contribuições por projeto, chegando ao envolvimento de familiares como na ação “Meu Mundo Atento”, com solicitação de envio de desenhos de filhos e sobrinhos para compor o calendário 2009 a ser distribuído pela empresa. Além disto, a AtentoTV é inteiramente feita por funcionários, com programas quinzenais de 15 minutos.

Falando em televisão corporativa, o gerente de Comunicação Interna do Wal Mart, publicitário Vinícius Azambuja, mostrou o processo de produção e veiculação de seu canal. Com 330 lojas em 110 cidades de 17 estados, abrangendo 70 mil funcionários (60% deles com menos de 30 anos), a opção pela TV veio para enfrentar a complexidade da distribuição geográfica e das regionalidades do grupo, afora a constatação de que a cultura brasileira é adepta do audiovisual como linguagem. Ademais, o respeito às pessoas é tido como um dos três princípios básicos de atuação: os funcionários têm reconhecimento por tempo de trabalho, participam dos lucros, têm oportunidades de crescimento interno e são incentivados para mobilização para a sustentabilidade. “De toda maneira, é preciso dizer que a principal ferramenta de comunicação é o líder”, ressalta.

Azambuja explicou como funcionam os dois canais, com uma grade diária composta por atividades culturais, programa de auditório, telejornais semanal e diário, a partir de um estúdio próprio de 150 metros quadrados. São mais de 500 unidades de recepção posicionadas nos bastidores das lojas. Ao vivo, são transmitidas reuniões, eventos e comunicados importantes, trazendo como vantagens a proximidade com os líderes, interatividade, consolidação da identidade corporativa e diminuição das distâncias geográficas com rapidez. Já os programas gravados trazem resgate da história e da cultura, alinhamento estratégico, temas funcionais cotidianos, divulgação de ações sociais e ambientais, mobilização para campanhas futuras, ações de marketing e treinamentos, este último tido como uso preponderante. A grade é divulgada pela intranet e pelos próprios monitores. Ele relata um aumento de 160% de programas transmitidos logo no primeiro ano dada a alta aceitação, o que fez com que o instrumento fosse expandido para mais quatro estados com seus estúdios. “É uma ferramenta ágil, com linguagem simples e direta, certo nível de interação, que permite a permanente presença do líder e o repasse da cultura e dos valores de maneira mais compreensível”, explica. E, a julgar pelo porte da TV na matriz norte-americana, com seus 16 canais e o status de ser a quinta maior rede de televisão daquele país, pode-se ver que o projeto ainda deve aumentar no Brasil.

Ainda participaram com apresentações de caso o coordenador de Comunicação Interna para América Latina da Philips, Ricardo Vicalvi, tratando da transformação dos colaboradores em embaixadores da empresa por meio de ações estruturadas de comunicação, e ainda a gerente de Comunicação Interna e Ambiente Corporativo da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, Luciana Ranieri, que trabalha com uma visão integrada a partir de vertentes estratégicas identificadas por pesquisas com seus mais de seis mil funcionários. Já a gerente de Comunicação e Qualidade da Sky, Solange Alves, detalhou programas de incentivo altamente criativos para envolvimento da equipe de tele-atendimento. A diretora de Comunicação da Tetra Pak, relações públicas Elisa Prado, falou da importância da comunicação presencial, em que projetos de capacitação para a expressão são oferecidos para obter o nível de participação produtiva requisitado. Sua empresa acredita que ajudar os colaboradores a entender os negócios é a chave para criar engajamento e atingir os objetivos. “A comunicação interna e externa, se franca e rápida, resulta em clima de confiança com toda a cadeia de valor”, resume ela.

RP Rodrigo Cogo – Conrerp SP/PR 3674
Gerenciador do portal Mundo das Relações Públicas (http://www.mundorp.com.br/)

This entry was posted on quarta-feira, 10 de dezembro de 2008 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.