A Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo/Sabesp reuniu empresas brasileiras que têm excelência na montagem de relatórios de sustentabilidade e fez uma rodada de apresentações de metodologias em sua 14ª Audiência de Sustentabilidade. O evento, que reuniu mais de 100 pessoas no Novotel Jaraguá em São Paulo/SP, aconteceu no dia 3 de fevereiro de 2009. Historicamente, as empresas têm emitido balanços e demonstrações financeiras reguladas na forma da legislação, distribuídas para acionistas, investidores e publicadas em jornais. Mais recentemente, passaram a redigir fascículos independentes ou agregar capítulos sobre a gestão de responsabilidade social e ações no campo ambiental. As experiências da Bunge e dos bancos Real e Itaú, ao lado da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento da Sustentabilidade/FBDS que organiza uma avaliação e um ranking no tema junto com a Sustainability, foram as atrações.
As audiências de sustentabilidade são reuniões públicas para fomentar a discussão, congregar interlocutores e divulgar trabalhos, propostas e projetos ecológicos, sociais, culturais, científicos, educacionais, de lazer, esportivos e artísticos em prol da sustentabilidade e que mereçam maior visibilidade para inspirar sua ampliação/reprodução, ou busquem viabilidade por meio de apoios, parcerias e patrocínios. A idéia do organizador é ampliar o espaço de diálogo com a sociedade em geral e repercutir na mídia questões importantes para a melhoria da qualidade de vida e construção da sustentabilidade. Marcelo Morgado, assessor de Meio Ambiente da Sabesp, relembra a importância que os relatórios de sustentabilidade ganharam como instrumento de gestão empresarial: “as empresas não podem se contentar em apresentar apenas um balanço econômico-financeiro; os relatórios de sustentabilidade acabaram tomando uma proporção muito importante no universo das empresas. Precisamos agora unir todas as partes interessadas”. Afinal, há uma nova compreensão de mundo e de participação organizacional em diversas situações comunitárias cotidianas a partir do conceito de “triple bottom line”.
A primeira apresentação da manhã foi da consultora da FBDS, Fabiana Moreno de Campos. A Fundação é uma entidade sem fins lucrativos que se diferencia pelo network com a comunidade científica, entidades de fomento e corporações, tendo como missão disseminar o conceito de sustentabilidade. A instituição, presidida por Israel Klabin, tem percebido o crescimento no número de empresas que apresentam relatório de sustentabilidade, embora a média brasileira ainda está aquém da mundial. Os relatórios brasileiros representam apenas 3% dos apresentados globalmente. Fabiana detalhou a metodologia utilizada na pesquisa “Rumo à Credibilidade”, feita sob uma amostra de 76 relatórios no tema relatados por companhias brasileiras e resultando numa lista dos dez melhores relatórios – os “Top Ten”. Ela tratou dos critérios que levaram às dez empresas selecionadas como as melhores, seus pontos fortes e os que devem ser melhorados, a partir de uma análise rigorosa em método complementar aos postulados do Global Reporting Initiative/GRI, organismo que estabelece os indicadores e itens mínimos que um bom documento deve incluir. Foram quatro seções – Governança e Estratégia, Gestão, Desempenho e Acessibilidade e Verificação – indicando alinhamento entre sistemas internos e intenções declaradas, explicação dos processos através de dados materiais, visualização amigável e estilo confiável. Sobre elas, são passados 29 critérios, com sistema de pontuações em quatro níveis. Um vasculhamento de 10 fontes públicas foi realizado para buscar notoriedade das organizações na área, chegando a 275 empresas, sendo que destas 76 publicavam relatórios. O ranking ficou assim composto: 1) Natura; 2) Suzano; 3) Ampla; 4) Coelce; 5) Banco Real; 6) Energias do Brasil; 7) Sabesp; 8) Bunge; 9) Celulose Irani; e 10) Banco Itaú.
A consultora ressalta como ponto forte dos relatórios, entre outros, a declaração de compromisso com a sustentabilidade do CEO da empresa e a realização de auditorias externas para validação do conteúdo (entre os 10, sete contratam auditores). Há um bom nível de relato sobre a estratégia de negócios ligada ao tema, com forte vínculo do investimento social ao setor da organização, boa descrição de processos de gestão ambiental, saúde, segurança e emissões. No que se refere aos pontos negativos, apontou a falta de metas objetivas, a ausência da “voz” dos stakeholders, a ineficiência do uso de websites e falta de equilíbrio entre questões negativas e positivas. Em geral, os relatórios são vistos como muito extensos, em média 160 páginas (enquanto a média mundial não ultrapassa 60), faltando priorização e ordenamento de dados mais específicos para públicos dirigidos, através de canais especiais. Quanto ao engajamento de stakeholders, o recurso está sendo mais usado para manutenção de imagem e reputação e menos na construção de estratégias coletivas. Para Fabiana, a empresa perde oportunidade de pegar inputs externos e organizar sua agenda de sustentabilidade. “Os relatos precisam ser aperfeiçoados para chegar nas melhores práticas. Deixa a desejar quanto à influência na cadeia de valor, o impacto do ambiente externo no ambiente interno. As maiores pontuações nacionais estão na faixa de 50%, e o nível mundial é de 80%. A sustentabilidade está incorporada nos discursos, na missão e na visão, mas os documentos não mostram como”, destaca.
EXPERIÊNCIAS - Flávio Naccache, superintendente de Assuntos Regulatórios da Sabesp, explicou como foi a construção do 1º relatório de sustentabilidade da empresa. Disse que foram levados em conta diferentes fatores, entre eles que o relatório de sustentabilidade reflete a mudança de posicionamento da empresa e do foco no produto – “duplicamos o patamar de investimentos e lançamos importantes projetos estruturantes com foco em comunicação bilateral; aumentou-se o foco no cliente e criou-se novos produtos, voltados para a proteção do meio ambiente, como o Sabesp Soluções Ambientais. Adotou-se uma nova política de meio ambiente e aumentamos as conversas com nossos stakeholders”. De acordo com ele, os próximos passos da Sabesp para construir o novo relatório são aumentar o número de indicadores, aumentar a avaliação de materialidade e ouvir os stakeholders. Afinal, o documento passa a ser uma ferramenta de comunicação e transparência, linkada com metas de planejamento. O grande desafio para o executivo é instaurar uma cultura com base em dados, além da necessidade de adequação das diretrizes indicadas pelo GRI para o universo da empresa. O relatório da Companhia foi publicado impresso, na internet, em CD e numa inserção publicitária resumida em jornal.
A especialista em Risco Socioambiental do Banco Real, Silvia Chicarino, apresentou o tema “Relatórios de Sustentabilidade como Fonte de Avaliação” e destacou que é importante um relatório de sustentabilidade conter , além das metas cumpridas, as não-cumpridas, como geralmente os relatórios globais trazem. Já Michel Henrique Santos, Gerente de Marketing Corporativo da Bunge Brasil, discorreu sobre “Parcerias para Sustentabilidade: Reportando o Relacionamento com a Cadeia de Valor”. O relatório da Bunge está no terceiro ano e a empresa tem todos os seus negócios atuais associados à sustentabilidade, com quatro pilares em sua plataforma global: agricultura sustentável, mudanças climáticas, resíduos e dieta saudável. As parcerias no setor tem que ir além da conformidade legal, desenvolvendo foco estratégico e alavancando imagem pela captura de valor aos negócios envolvidos. Para tanto, eles negociam com 60 mil produtores rurais associados, que assinam um contrato aceitando cláusulas rígidas e restritivas, relativas por exemplo a evitar trabalho escravo ou infantil. Foram mais de 600 eventos de relacionamento, treinamento e diálogo, levando conhecimento e captando subsídios para uma melhoria coletiva. O gerente relata a existência de um repasse contínuo de know-how em indicadores e monitoramento de condutas para os parceiros e sua cadeia produtiva, compartilhando o expertise e obtendo ainda maiores resultados gerais. Os painéis de stakeholders é uma prática comum na Bunge, e são citadas em relatório as principais demandas referidas e quais foram implementadas pela empresa.
Sônia Favoretto, superintendente de sustentabilidade do Banco Itaú, encerrou as apresentações com o “Relatório de Sustentabilidade: Oportunidade de Diálogo e Inovação”. A jornalista disse que a sustentabilidade “deve estar no DNA da empresa” e explicou que o Itaú criou a Matriz Itaú de Sustentabilidade, em que relata quem é a empresa, o que faz, como faz, com quem faz através de cinco dimensões: identidade, finanças sustentáveis, governança, relacionamento e reputação. O relatório de sustentabilidade está dentro do item governança, que é justamente o “como a empresa faz”. Para a superintendente, o documento é peça de prestação de contas da empresa e de relacionamento com seu público. Data de 1966 o primeiro relatório anual do banco, e já no ano seguinte acrescendo sua atuação social. A adesão ao GRI veio em 2003, sendo que em 2005 fizeram o primeiro painel de stakeholders, quando também ganharam o primeiro prêmio de balanço social. Há uma pesquisa interna sobre credibilidade, transparência, clareza e quantidade de dados, que vem apresentando altos índices de aprovação. O Itaú envolve 80 pessoas no trabalho, com uma versão impressa em três partes. É feita uma particularização de conteúdos: síntese para colaboradores, síntese para stakeholders e encarte para crianças. Este encarte foi derivado de um projeto de oficinas em cinco cidades de três estados, envolvendo 249 crianças, além de workshop com educadores.
ENGAJAMENTO – A SABESP ainda organizou, na parte da tarde, um Painel de Engajamento para qualificar os dados de seu desempenho e de seu relatório conseqüente, para onde foram convidados funcionários, investidores, fornecedores, clientes, ONGs, representantes comunitários, sindicatos, órgãos reguladores e governo. Esta é a primeira vez que uma empresa pública inclui interlocutores externos na discussão de suas atitudes e relatório. A iniciativa inédita é parte da política de gestão participativa. Haverá uma análise da edição anterior do relatório – a primeira publicada pela empresa e já posicionada no sétimo lugar o ranking da Fundação - fazendo críticas e sugestões. "Trata-se de um evento estratégico porque pode orientar as práticas da organização ao longo do ano de modo a contemplar os interesses de todos os stakeholders”, afirma Fernando Pavan, consultor da Key Associados, convidado para mediar o encontro.
RP Rodrigo Cogo – Conrerp SP/PR 3674
Gerenciador do portal Mundo das Relações Públicas (http://www.mundorp.com.br/)
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