Basta um clique no mouse em alguma cidade americana para que um hectare de floresta no Brasil ou na Indonésia esteja a salvo da destruição. Ou uma mensagem curta de texto para mobilizar centenas de pessoas em torno de uma causa urgente pelo planeta. O ativismo ambiental está cada vez mais globalizado e conectado à internet. E não poderia ser diferente: com suas redes sociais e blogs, o mundo virtual tornou-se hoje a principal e a mais rápida arma das organizações não-governamentais para proteger a natureza, angariar voluntários e levantar fundos.
A emergência das questões ambientais alavancou os sites das grandes ONGs e catapultou o número de blogs dedicados ao assunto. Há pelo menos uma centena deles disponíveis na internet.
A oferta de ações também é grande. É possível ajudar remotamente gorilas da África ou adotar, pelo preço mínimo de três libras esterlinas por mês (pouco mais de R$ 10), o carismático panda Zhu Xiong, mantido na reserva de Wanglang, a maior da China. Com direito até a cartão, a adoção de espécies em extinção - ou em vias de - virou uma forma politicamente correta de presentear virtualmente amigos e parentes nos Estados Unidos e na Europa.
O aquecimento global também teve papel fundamental para conscientizar o internauta sobre a importância de se manter as florestas de pé. Na esteira das projeções assustadores de superaquecimento do planeta, as maiores ONGs internacionais criaram programas exclusivos para preservação das últimas manchas verdes remanescentes, entre elas a Amazônia brasileira.
A americana Conservação Internacional (CI) escolheu o popular site de compartilhamento de vídeos YouTube para lançar, no ano passado, uma das campanhas de maior sucesso para adoção de florestas, a "Proteja um Acre". Em um vídeo provocativo, exibiu o ator Harrison Ford em uma dolorosa sessão de depilação, demonstrando que quando se desmata um lugar, outra parte do mundo sente. "Lost there, felt here", diz o galã hollywoodiano.
Em poucas horas o link "Harrison Ford perde um acre" pulou para o ranking dos mais assistidos no YouTube, recebeu a indicação de um sem-número de blogs, artigos em sites especializados como o TakePart.com e comentários nas redes sociais MySpace, Facebook e Twitter. Por aqui, o Orkut (o preferido dos brasileiros) tampouco deixou passar despercebida a provocação. Para a Conservação Internacional, a repercussão foi à altura. Em menos de um ano, a campanha levantou US$ 750 mil para proteger uma área estimada de 18 mil acres ao redor do mundo.
"A adoção de novas plataformas para comunicação com o público é crucial. Precisamos atingir outras audiências", explicou ao Valor Laura Bowling, vice-presidente de marketing estratégico e comunicação global da Conservação Internacional.
A The Nature Conservancy (TNC), uma das organizações pioneiras de preservação, seguiu a mesma trilha e iniciou o programa "Plant a Billion Trees". Como o nome em inglês indica, o programa tem o objetivo de restaurar 2,5 milhões de acres com o plantio de um bilhão de árvores em remanescentes da Mata Atlântica brasileira, paraguaia e argentina, em sete anos. O mote: "Um dólar, uma árvore". Segundo a atualização mais recente de seu site, 1.511.429 milhão de árvores já foram plantadas.
Assim como a Conservação, os novos canais cibernéticos foram essenciais para esse desempenho - e com investimento zero. "O engajamento em redes nos permite comunicar com jovens para apoiar nossa causa. Um exemplo é o FaceBook, onde temos 64 mil colaboradores", disse Jackie Held, gerente de marketing de parcerias da TNC. Cerca de 40% dos membros da organização têm mais de 65 anos.
A causa ambiental também ganhou muito mais agilidade com as novas ferramentas. Na mais recente iniciativa, o Greenpeace mobilizou rapidamente cerca de 500 pessoas no Parque Villa Lobos, em São Paulo, para a formação de uma "onda humana" que chamasse a atenção do governo federal para a implantação de áreas protegidas marinhas na costa do país.
Os ciberativisitas entraram em ação em massa novamente com a campanha "O mundo está de olho!", da WWF Brasil, na qual os internautas eram convidados a postar uma foto de seus olhos para pressionar os representantes dos países participantes da 14ª Conferência das Partes da Convenção de Clima da ONU, realizada em dezembro, a se comprometerem com um acordo global sobre o clima. As imagens foram exibidas em um imenso telão durante a conferência em Poznan, na Polônia. Segundo a WWF, mais de 16 mil imagens foram postadas na página da ação no site de compartilhamento de fotos Flickr.
Em todas as ações de mobilização, o microblog Twitter parece ser o campeão em velocidade e, não à toa, tornou-se uma coqueluche entre os ambientalistas. A plataforma permite que o usuário publique mensagens curtas - de até 140 caracteres - e forme uma rede de seguidores. "O que importa é dar sua mensagem em tempo real. O Twitter é um radinho de notícias, só que escrito. É mais rápido que o celular", diz Jorge Cordeiro, do Greenpeace.
Mais que as redes sociais e a blogosfera, no entanto, os ciberativistas ganharam aplicações poderosas no ano passado. O Google criou o Google Ocean, um software de mapeamento e imagens do oceano, e o Google Earth Solidário, após verificar a utilização do aplicativo pela Cruz Vermelha e o Exército americano nos trabalhos de resgate do furação Katrina.
"Percebemos que essas ferramentas são úteis para oferecer informações para as mais diferentes organizações", disse Marcelo Quintella, gerente de produto do Google Map Brasil
Fonte: Jornal Valor Econômico - 26/02/09
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