Todo funcionário é agente de comunicação






As organizações vão atuar cada vez mais no formato em rede, com ênfase na virtualidade e informacionismo. Há uma alteração de foco quanto a vínculo e estabilidade de trabalho, com forte terceirização e produção flexível, num processo de reinvenção. Aparece agora em alta escala os “disposable workers”, equivalente à relação trabalhista como fornecedor, numa nova configuração da disponibilidade e de exigência de capacitação. Sob este cenário, o professor e consultor João José Curvello desenvolveu o curso “Caminhos para uma Nova Comunicação Interna” na sede da ABERJE no dia 6 de fevereiro de 2009.





Há um mapa de competências na Sociedade da Informação, relativos a habilidades básicas, interpessoais, tecnológicas, cognitivas, de recursos, sistemas e de informação, que precisam ser dominadas pelos profissionais de quaisquer segmentos. Mais ainda no campo da Comunicação e do relacionamento, quando há um foco em torno de equipes de trabalho e suas interrelações. Curvello tem graduação em Jornalismo pela Universidade Católica de Pelotas/RS, mestrado em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo e doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo. Atualmente é professor da Universidade Católica de Brasília, onde dirige o Programa de Mestrado em Comunicação. Sua visão envolve a reflexão teórica sobre os processos organizacionais e também a prática por ter sido assessor no Banco do Brasil, entre outros locais.





Os gestores apresentam grandes expectativas sobre comunicação interna, inclusive como fonte de atribuição de sentido à vida organizacional, buscando equilíbrio entre as necessidades da organização e de seus principais públicos. Para isto, ele comenta a necessidade de mudar o foco da influência para os relacionamentos, que criam vínculos mais duradouros e conquistam adesão a uma cultura de colaboração e de compartilhamento de informações em todos os níveis. “Relações de confiança reforçam valores, crenças, ritos e rituais”, acrescenta. Como saída para atingir este nível de expectativa, o professor sugere unir teoria e prática para ter a compreensão da complexidade dos fatos e a agilidade para responder as demandas. Só assim entende que seja possível construir, propor e disseminar políticas, diretrizes e responsabilidades no ambiente interno. Outro viés contemporâneo importante é entender os laços entre educação e comunicação. Para ele, “cabe ao comunicador sensibilizar para a importância de manter relações transparentes e honestas com os públicos e disseminar a visão de que a comunicação é mais do que persuasão e controle”. Ademais, a tendência é transformar todo funcionário em agente de comunicação, ciente da extensão de suas atitudes no reconhecimento da identidade da organização. Curvello propôs uma reflexão sobre a capacidade efetiva do profissional da área de Comunicação Interna de intervir na complexidade das demandas de uma diversidade de perfis de pessoas que convivem no trabalho. “Trabalhamos basicamente com gestão de informações no ambiente interno”, conceitua.





TECNOLOGIA – As condições de tecnologia da comunicação estão permitindo o surgimento de uma variedade de canais de diálogo para estabelecer vínculos fortes. O consultor explica: “afinal, a comunicação tem um papel fundamental na construção de sentido na sociedade e nos ambientes organizacionais. E é pela comunicação que as organizações, como sistemas sociais, realizam sua auto-construção”.





Segundo ele, é preciso admitir, ao contrário da teoria de ação comunicativa sugerida por Habermas, que como as organizações são espaços de poder há necessariamente uma comunicação que nem sempre gera consenso. Conflitos entre pessoas, animosidades entre pessoas e organização, discordâncias entre organizações com repercussão interna são campo cotidiano de trabalho, “demonstrando que uma organização, na verdade, é uma rede dinâmica de conversações com o ambiente; só existe porque uma rede de comunicações e de expressões viabiliza a construção de sua identidade”. Daí que se vê que a comunicação não é algo controlável, e mais ainda que não é inteligente bloquear estes múltiplos contatos. A maneira como uma organização conversa condiciona as possibilidades de desempenho, o nível de efetividade que alcança, sua viabilidade, êxito e fracasso.





TEORIAS - Curvello tratou dos enfoques tradicionais da comunicação interna. O enfoque operacional está centrado na maneira como as mensagens são transmitidas, na comunicação como conjunto de dispositivos de informação, instruções, ordens e metas. Já o enfoque integrativo nasce do reconhecimento da importância do fator humano no processo produtivo, tornando a moral e a motivação temas essenciais, onde a comunicação é o conjunto de ações coordenadas para manter a coesão interna. Contudo, estas perspectivas estão em análise, por conta da emergência de um novo comportamento profissional e cidadão, ainda que o caráter humanitário esteja muito presente. A definição do próprio palestrante para comunicação interna é “um conjunto de ações que a organização coordena com o objetivo de ouvir, informar, mobilizar, educar e manter coesão em torno de valores que precisam ser reconhecidos e compartilhados por todos e que podem contribuir para a construção de boa imagem pública”. Ele ainda rememora a visão do Plano de Comunicação da Rhodia, que desde 1985 aponta a área como estratégia de compatibilização de interesses de empregados e empresa, através do estímulo ao diálogo, à troca de informações e de experiências e à participação de todos os níveis.





O curso apresentou ainda a visão de Goodal Jr e Eisenberg, com a comunicação como transferência de informação (metáfora do conduíte), transacional (feedback como sinalização do resultado), controle estratégico (comunicador como estrategista), equilíbrio entre criatividade e sujeição (mediação de tensões) e espaços de diálogo (equilíbrio expressivo). Grunig e Hunt também foram lembrados com os modelos de Relações Públicas e Comunicação Organizacional (assessoria de imprensa, difusão de informações, assimétrico de duas mãos, simétrico de duas mãos) e ainda o modelo complementar de motivos mistos de Patrícia Murphy (negociação, teoria dos jogos, ética e justiça). A visão da Escola de Louvaine/Bélgica propõe uma definição explicativa e interpretativa da comunicação interna como o conjunto contextualizado de comportamentos e opiniões em interação, conflito, embate e diálogo numa dada organização. Um ponto fundamental num mundo colaborativo, segundo Curvello, é lembrado pela visão de Fernando Flores, com redes conversacionais, em que toda a conversação entre interlocutores expressa compromissos. Atos de fala são diretivos (quando se demanda uma ação), compromissados (quando se promete realizar uma ação), declarativos (se expressam uma nova visão de mundo), expressivos (se representam estados de ânimo) e afirmativos (se expressam crenças justificadas).





A força da comunicação interna fica comprovada no resultado de pesquisas como do Hay Group, que concluiu que as empresas mais admiradas da Revista Fortune aumentaram seu valor em 50% sobre seus concorrentes depois de instituir programas mais fortes de comunicação interna. Outra validação veio com o Corporate Executive Board em estudo de 2004 – “Interpretando a performance e as condutas de Compromisso dos Empregados” -, encontrando crescimentos de até 57% nos níveis de compromisso e uma redução de até 87% no desejo de abandonar uma organização quando possuem políticas e práticas coerentes de comunicação. De outro lado, constatações como a improbabilidade da comunicação de Luhmann apontam que nada garante que o receptor acesse a informação, que após acessar entenda a mensagem, e que entendendo concorde a ponto de agir. Por isto, como registrou a Stromberg Consulting em 2006, a grande tendência é a personalização de mensagens com simplicidade. Além do mais, a efetividade do serviço parte de um mix integrado por quatro pilares: meios, ações, capacitações e mediações.





O professor finalizou tratando dos desafios da área, como a compreensão das forças que movem a organização e o trabalho, entendendo os espaços organizacionais e suas resistências. Com isto, certamente as pessoas vão perceber a inadequação dos instrumentos tradicionais, as lacunas entre discurso e ação e a impessoalidade tradicional da comunicação. “A conversa é um aprendizado, porque viabiliza a comunicação simétrica e é um investimento na criatividade e na inovação”, conclui. O tema atraiu mais de 30 participantes de oito estados diferentes, vindos de empresas como ADM do Brasil, Ampla, Bradesco, Brasilprev, Visanet, Grupo André Maggi, Itaú, Sara Lee Cafés, Nívea, Unibanco, Serasa, Astra Zeneca do Brasil e órgãos públicos como a Companhia de Energia do Estado do Paraná, Ministério Público de Pernambuco, Prefeitura de Votuporanga/SP e Banco de Desenvolvimento do Estado do Espírito Santo.





AGENDA – A programação do início do ano apresenta várias opções de qualificação na sede da entidade em São Paulo/SP (Av. Angélica, 1757 – 12. andar). Em março, já estão programados os treinamentos de “Melhores Práticas em Comunicação da Estratégia - A Comunicação como Apoio à Implementação do BSC” no dia 13, “Endomarketing: Prioridades empresariais através do estratégico alinhamento interno” com Saul Bekin no dia 17 e “Relatórios de Sustentabilidade GRI” com os consultores Carmen Weingrill e James Heffernan nos dias 19 e 20. E ainda no dia 20, acontece o curso “Branding: Comunicação e Valor de Marcas Corporativas” com o arquiteto, consultor e professor Ricardo Rodrigues. Já a jornalista Pollyana Ferrari desenvolve o curso “Como construir e gerenciar blogs corporativos” no dia 24. Para a cidade do Rio de Janeiro (Rua São José, 40, 2º andar), está programado o curso “Construção de um Plano de Comunicação Interna” no dia 31 com o consultor Carlos Parente. Ainda no dia 12 de março, acontece o 9. Mix ABERJE de Comunicação Interna e Integrada em SP.





Todos os participantes dos cursos vão receber gratuitamente a segunda edição do Dicionário de Mensuração e Pesquisa em Relações Públicas e Comunicação Organizacional, de Don W.Stacks. Detalhes do conteúdo programático podem ser conferidos no http://www.aberje.com.br/, e mais dados podem ser obtidos através do e-mail cursos@aberje.com.br ou ainda no telefone 11-3662-3990, com Carolina Soares ou Fernanda Peduto.



RP Rodrigo Cogo – Conrerp SP/PR 3674
Gerenciador do portal Mundo das Relações Públicas (http://www.mundorp.com.br/)

This entry was posted on segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.