Medição de resultados começa no planejamento da ação e está sob impacto de mudanças sociais

Comunicação Interna






Erra quem pensa que a coleta de informações sobre o desempenho de uma ação de comunicação interna, ou de resto em qualquer outra área da comunicação organizacional, acontece somente no final da implementação da atividade. Especialistas reunidos na Conferência de Performance em Comunicação Interna da International Business Communications/IBC deixaram bem claro: tudo começa no planejamento do programa ou projeto, quando são definidos os objetivos. Se existe inconsistência no início, os indicadores certamente acabarão falseados e não se obterá uma visão de seu impacto. O evento aconteceu nos dias 29 e 30 de março de 2011 no Hotel Park Plaza em São Paulo/SP, reunindo cerca de 50 participantes de vários locais do país.


Nelson Silveira, gerente de Comunicação Corporativa da GM do Brasil, traçou um cenário da complexidade do trabalho na área atualmente. Com a proliferação das mídias sociais e uma profunda e rápida transformação do cotidiano que desafia as formas tradicionais da comunicação – diante da amplitude de acesso a voz, há a criação de um campo global de exigência de transparência e acesso. O novo paradigma sai da audiência de massa para a de nicho, com engajamento ativo e voz individual, numa economia de baixo custo de produção e transmissão. Ao invés de Publisher profissional, abre-se espaço para a auto-publicação descentralizada. Ele assinala que existe hoje um deslocamento de credibilidade para discursos individuais mais próximos, e o posicionamento das organizações deve partir para um caminho de especialista influenciador em determinados temas. Para tanto, “os relacionamentos continuam sendo cruciais, porque se vende afinidade e não produtos, onde o diálogo e a sinceridade são fundamentais”, pontua.


O alcance deste estilo de interagir é alto e chega a ferramentas de gestão, que precisam ser mais participativas. Silveira complementa: “o resultado é que não se trata de forçar oportunidades de comunicação, mas sim acompanhar a dinâmica dos processos de mudança”. É assumir um papel social mais abrangente para ampliar conexões com diferentes redes, o que viabiliza o monitoramento do ambiente externo e os seus impactos internos, na consciência de que “as redes são uma radicalização do boca-a-boca”. A presença digital corporativa não pode prescindir do encorajamento a entabular conversações, com resposta rápida e atitude no gerenciamento de problemas, sempre proporcionando conteúdo relevante. Para ele, deve haver parâmetros para engajar-se em debates, alguns inclusive nem merecendo retorno como comentários excessivamente agressivos. Para cada caso, é preciso pensar sobre exposições, engajamento, influência e ação, elementos-base para mensuração de resultados. O gerente ainda falou sobre seu portal de comunicação interna, chamado Sócrates, um canal de informação, relacionamento e oferta de serviços, e sobre um fórum para empregados, criado em janeiro de 2011, e já com 10 mil membros e 300 discussões em andamento. Há na multinacional um blog para expressão exclusiva dos funcionários, chamado myGM Employee. Ele ainda ressalta que a equipe possui uma GMId para acesso remoto fora da empresa. No entendimento do representante da GM, somente depois de instaurar-se este tipo de compartilhamento é que a empresa pode efetivamente medir resultados.


Na opinião do gerente de Relações com a Mídia da Votorantim e professor da Faculdade Cásper Líbero, Renato Delmanto, os pontos fundamentais para deflagrar um planejamento são o perfil do público interno e o perfil da liderança. Segundo pesquisa da Aberje, das 100 maiores organizações brasileiras 30% não faz pesquisa em comunicação e pouco mais de 40% contratam institutos especializados. Junto a isto, 35% dos profissionais da área desconhecem metodologias de mensuração, embora “a pesquisa em comunicação seja uma bússola para o planejamento estratégico”, pontua. Citando estudos de Wilson da Costa Bueno, comenta que a pesquisa não está incorporada ao dia-a-dia do setor, que ainda tem visão dela como custo. Um dos problemas é não posicionar a comunicação como influente na gestão do conhecimento.


Segundo Delmanto, existem vários objetivos de uma pesquisa de performance em comunicação, como obter grau de satisfação com o trabalho, avaliação de meios utilizados, impacto das campanhas de comunicação interna, mudança de atitude, relacionamento interpessoal e avaliação da comunicação da liderança. O método qualitativo é integrado por grupos de discussão, onde se aprofundam opiniões e se conhecem motivações, trazendo informações “quentes” e na linguagem dos funcionários. O discurso natural evocado nestes momentos, com clara semelhança com redes sociais, rádio-peão e interações no cafezinho ou refeitório, permite muitas descobertas. Também podem ser feitas entrevistas em profundidade, pensando em preservar privacidade de determinadas pessoas, cujas opiniões auxiliam a entender dados quantitativos e complementam perspectivas trazidas nos grupos. Já o formato quantitativo mensura a intensidade das opiniões captadas a partir de questionário elaborado conforme objetivos estratégicos da empresa, com perguntas que propõem um trajeto racional ao funcionário e identificam oportunidades de interfaces. Conforme o gerente, os níveis de avaliação podem ser outputs (medem difusão de informação), outcomes (medem recepção) e outtakes (medem retenção – impacto e entendimento). “O profissional de comunicação deve definir suas metas com base na retenção de mensagens”, sugere.


Ele mostrou um estudo de caso de diagnóstico de comunicação interna, tendo como proposta melhoria no clima organizacional, análise de transparência na divulgação de informações, retenção e atração de talentos. Isto foi feito através da pesquisa de clima tradicional, com um recorte do “fator comunicação” para mapeamento dos principais issues, com perguntas acerca de questões ligadas ou influenciadas pelas ações da área. Somado a isto, já foram feitas duas rodadas quantitativas focadas nos meios de comunicação interna, com quatro blocos de conteúdo – veículos de comunicação, fluxo de informação, conteúdos e papel da liderança. Sobre veículos, são avaliados número de veículos; ideia clara da finalidade de cada meio, existência de informações em excesso, repetidas ou sem relevância; conflito com a realidade local das unidades; frequência excessiva. Sobre fluxo de informação, os temas são demora da chegada da informação; concentração de informação em meios digitais; eficiência da rádio-peão; percepção sobre cascateamento por lideranças; visão sobre abrangência de conteúdo transmitido entre níveis hierárquicos. Já sobre conteúdos divulgados, há interesse sobre informação pautada; relação individual com metas coletivas; possibilidade de participação do funcionário. Por fim, sobre papel da liderança, analisam tempo e espaço para diálogo; nível de proximidade entre líder e equipe; comportamento das lideranças. Delmanto detalhou alguns planos de ação gerados pelos insights das pesquisas, no aperfeiçoamento do relacionamento e da circulação interna de informações. Entre os fatores críticos do processo, aponta o patrocínio da alta direção, o compromisso das lideranças, periodicidade da pesquisa, cumprimento dos prazos, implantação e monitoramento dos planos de melhoria, percepção sobre mudanças a partir da pesquisa e portanto sobre a credibilidade do instrumento.


A conferência contou com onze painéis e um workshop. Informações sobre outros eventos, veja em http://www.informagroup.com.br/comunicacao . RP Rodrigo Cogo – Conrerp SP/PR 3674 Gerenciador do portal Mundo das Relações Públicas (http://www.mundorp.com.br/)





This entry was posted on terça-feira, 5 de abril de 2011 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.