China enfrenta o desafio de limpar sua imagem, chamuscada pela tocha

Alguém se habilita a ser Relações Públicas da China? Pois é, o país com maior crescimento no mundo está precisando de uma "mãozinha" para limpar sua imagem. A matéria destaca o caso dos Tibetanos, mas o buraco é bem mais embaixo. Abaixo a matéria.



WASHINGTON (AFP) — A tocha, símbolo dos Jogos Olímpicos e que deveria consagrar a projeção internacional da China, que irá sediar a competição, converteu-se numa pedra no caminho do regime comunista, que agora tenta reparar sua imagem, manchada pelas denúncias de violação dos direitos humanos e repressão no Tibete.


As manifestações alteraram o trajeto da tocha por Londres, Paris e São Francisco, e até a abertura dos Jogos de Pequim em agosto qualquer movimento da tocha será feito sob um forte esquema de segurança.


As embaixadas e consulados chineses se converteram em alvo dos grupos tibetanos e de outras organizações, que estão se aproveitando dos Jogos para chamar a atenção à violação dos direitos humanos por Pequim, por seu apoio ao Sudão, acusado de ser cúmplice das matanças em Darfur, e pela junta militar da Mianmar.


Para amenizar os efeitos negativos, as autoridades chinesas decidiram recorrer aos serviços de uma agência estrangeira de relações públicas.


De acordo com o jornal britânico Financial Times, vários responsáveis chineses estão em contato com agências britânicas e americanas, com a intenção de contratar uma delas para elaborar uma estratégia de comunicação para os próximos quatro meses que faltam até a abertura dos Jogos Olímpicos.


No entanto, a missão de reverter a imagem negativa da China parece uma tarefa impossível, tanto pelo curto prazo como pela rejeição que as medidas possam provocar.


Os defensores da causa tibetana e dos direitos humanos estão em vantagem e a capacidade de mobilização "mostra o poder dos movimentos internacionais da sociedade civil, que a China desconsiderou quando se candidatou para sediar os Jogos", afirmou Malik Mohan, especialista em Ásia, do centro de pesquisa americano Asia-Pacific Center for Security Studies.


"O fato da chama ter sido apagada, ainda que pelas próprias autoridades de segurança, garante uma vitória muito importante para os movimentos e uma enorme humilhação para as autoridades chinesas", acrescentou.


O Dalai Lama, líder do budismo tibetano e Prêmio Nobel da Paz, foi recebido nos últimos meses pelo presidente americano George W. Bush e pela chefe de governo alemã, Angela merkel, apesar das advertências da China.


"A pressão a favor do Tibete percorreu um longo caminho. Isso não se conquista de uma noite para outra", explicou T.Kumar, responsável pelo departamento Ásia-Pacífico da Anistia Internacional.


Sendo assim, qualquer agência de relações públicas questionaria sua capacidade de melhorar significativamente, em tão pouco tempo, a imagem da China.


"Que agência iria querer um cliente com a reputação deste país no campo dos direitos humanos? Isso não prejudicaria a sua reputação?", perguntou Gemma Puglisi, especialista em comunicação para situações de crise da American University.


"O problema e o desafio, é que a China precisa entender que se ela recorre a alguém, precisa ouvir o que essa pessoa tem a dizer", disse a especialista, que não está pessimista, já que acredita que os chineses "são muito inteligentes e sabem o que está em jogo nas Olimpíadas".


"Pelo espírito dos ideais olímpicos, estamos dispostos a ajudar a China", ironizou na última quarta-feira um editorial do jornal americano The New York Times.


"Eis o que deve ser feito: não deter dissidentes, não difundir mentiras sobre o Dalai Lama, começar a dialogar sobre uma maior liberdade religiosa e cultural no Tibet, e não permitir o genocídio cometido pelo Sudão em Darfur", publicou o jornal.


No entanto, a China não parece dar ouvidos aos conselhos e chamou o Dalai Lama de "lobo com hábito de monge" e ainda lhe atribuíram a responsabilidade pelas manifestações do mês passado.
Segundo as organizações tibetanas em exílio, a repressão matou 150 pessoas, apesar das autoridades chinesas só reconhecerem 20 vítimas, e afirmarem que todas foram assassinadas pelos "manifestantes separatistas".


Outra demonstração de repressão do governo chinês, que se sentiu provocado, foi a decisão de manter preso por três anos e meio o dissidente Hu Jia, por haver exigido na internet o respeito dos direitos humanos.


O Comitê Olímpico Internacional (COI) pediu na quinta-feira que a China cumpra com suas promessas, estipuladas para organizar os Jogos, e melhore a situação dos direitos humanos. No entanto, o governo chinês retrucou que o COI não deveria misturar esporte com "assuntos políticos" irrelevantes.


Para piorar ainda mais a delicada situação, o governo chinês recusou nesta semana uma solicitação da Comissária de Direitos Humanos da ONU, Louise Arbour, para visitar o Tibete.



Postado por Juliano Melo.

This entry was posted on domingo, 13 de abril de 2008 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.