Comunicação Empresarial: transparência ou maquiagem?

A crise financeira está revelando, de maneira contundente, a disposição de muitas empresas para a maquiagem de informações, mesmo em relacionamentos estratégicos como aqueles que mantêm com seus investidores/acionistas. Isso significa que lhes falta uma cultura de comunicação respaldada na transparência, ou seja, elas preferem optar por estratégias de manipulação ou sonegação de informações para preservar os seus próprios interesses.
Certamente não é essa a proposta que os comunicadores modernos defendem para as organizações do presente e do futuro, mesmo porque a não transparência já é percebida como uma desvantagem competitiva, pelo menos a médio e longo prazos.


Talvez aí esteja o erro da estratégia comunicacional de muitas empresas. Não conseguem enxergar além do seu próprio nariz (alguns narizes institucionais são tão avantajados que impedem que elas contemplem o seu entorno!), e convivem com um horizonte restrito, imaginando que o mundo (mesmo o dos negócios) termina a um passo ou a um segundo adiante.
Apostar no cassino da ciranda financeira como fizeram, penalizando os seus investidores, é apenas uma das facetas desta cultura organizacional avessa à autêntica comunicação. Há outras também conhecidas de longa data e que podemos apontar para a maioria das organizações, mesmo para aquelas que andam proclamando com alarde sua sustentabilidade e sua responsabilidade social.


Vamos nos ater a duas delas, ambas indicativas de uma postura não sintonizada com os novos tempos.
A primeira diz respeito ao relacionamento com a imprensa que, na prática, acaba mediando parte significativa de sua interação com a sociedade. Muitas organizações crêem, equivocadamente, que os veículos e jornalistas podem ser utilizados para a divulgação de suas "boas notícias", mesmo quando elas, se internalizadas pela audiência (consumidores, por exemplo), podem penalizá-la. Este é o caso das indústrias farmacêutica, agroquímica, de biotecnologia, de alimentos, de bebidas ou tabagista (para citar algumas das mais votadas no ranking da falta de transparência) que insistem em fazer a apologia de seus produtos, ainda que eles apresentem inconvenientes formidáveis. A indústria tabagista mata os próprios consumidores com o cigarro que vende, embora cinicamente continue afirmando (como fez no recente episódio em que foi derrotada pela justiça pela morte de um fumante) que não há provas de que o tabaco provoque determinadas doenças. A indústria de biotecnologia quer nos convencer de que os transgênicos vão matar a fome do mundo (por que não estipulam então um prazo para que a gente possa verificar esta tese idiota e acabar com esta farsa?), preocupada apenas em saciar a sua própria ganância monopolista e vender agrotóxico (veneno) como nunca. A indústria farmacêutica, em especial os representantes da chamada Big Pharma, gasta bilhões para anunciar produtos que, depois, são recolhidos por prejuízos incalculáveis aos pacientes. A indústria de alimentos anda assaltando as nossas crianças, com propagandas sedutoras que estimulam o consumo não consciente, comprometidas com o aumento da obesidade e a degradação da qualidade de vida. Um universo povoado de palhaços "fast-food", gordura trans, gergelim, salgadinhos e copos gigantes de refrigerantes.

Mais: http://portalimprensa.uol.com.br/colunistas/colunas/2008/11/21/imprensa332.shtml

This entry was posted on sábado, 29 de novembro de 2008 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.