Congresso discute os desafios da comunicação nas organizações


O exercício competente de pensar, comunicar, criar e inovar na comunicação das organizações, dentro de um enfoque estratégico da área, foi a proposta do 2º. Congresso ABERJE de Comunicação Empresarial, realizado no Guanabara Palace Hotel no Rio de Janeiro/RJ durante todo o dia 14 de agosto de 2008. Mais de 200 participantes de vários estados brasileiros movimentaram as sessões de perguntas e aproveitaram a oportunidade de intercâmbio, a partir de conceitos e provocações de 14 especialistas palestrantes em temas diversificados.



O jornalista Caio Túlio Costa, diretor-presidente do Internet Group – que reúne iG, iBest e BrTurbo, fez a primeira intervenção dentro do painel “Cobertura On-Line”. Ele concentra o raciocínio sobre a palavra “revolução” e o quanto está aplicada ao cotidiano com as novas mídias. Como exemplos, cita a manifestação contrária ao governo filipino em 2001, quando as pessoas foram mobilizadas via instant Messenger, email e torpedos para furar o bloqueio da mídia tradicional diante da ditadura vigente, conclamando pessoas a vestirem preto numa determinada avenida da capital, num processo que levou à deposição do então presidente Joseph Estrada. Depois, em 2004, no atentado à estação de metrô em Madri com bombas acionadas via celular, e diante da intensa cobertura da mídia internacional, o presidente José Maria Aznar atribuiu o fato ao grupo separatista ETA. Contudo, foi descoberto que seria atitude da Al Qaeda, desmoralizando o discurso governamental oficial por meio de informações disseminadas em SMS, email e instant Messenger e levando à presidência, nas eleições da semana seguinte, o oposicionista José Luis Zapatero. Costa ainda relembra os ataques da organização criminosa PCC a bases policiais, instituições bancárias e sistema de transporte em São Paulo em 2006, numa reação à ordem de transferência de líderes para presídios do interior. Após o final de semana, um suposto “toque de recolher” foi disseminado pela internet e celular, e a cidade foi esvaziando, mesmo que as autoridades tenham recorrido aos meios de comunicação tradicionais para desmentir. “Alguma coisa mudou”, alerta, dizendo que antes os jornalistas eram os principais atores, e hoje não teríamos mais esta proeminência, porque todos são produtores de conteúdo. Mas a notícia, na opinião dele, está longe de ser virtual, e sendo bem concreta causa impactos fortes e precisa ser vista com extrema responsabilidade. “A convergência, portanto, não está nos aparelhos, mas sim nas pessoas”, acrescenta Caio.




Das 26 maiores revistas semanais brasileiras, a leitura média é por 17 milhões de pessoas em seus mais de 3,6 milhões de exemplares distribuídos. O mesmo patamar de alcance tem os 30 maiores jornais nacionais. Já na internet, de acordo com dados do Ibope, há de 40 a 45 milhões de internautas ativos, número fixado pelo Instituto DataFolha em 59 milhões de pessoas. Ele completa afirmando que os anúncios nos grandes portais custa 20 vezes menos. Ao contrário do perfil familiar e nacional dos grupos de comunicação, a internet é internacional e de domínio pulverizado: 20% da audiência brasileira está no Google, ficando 19% para Microsoft e seus canais, 15% para o UOL e 12% tanto para o Terra quanto para o iG. Aliando as abordagens, ele comenta que o iG tem o espaço “Minha Notícia”, em que os visitantes comuns postam temas de interesse, com pequenos filtros, dando espaço para manifestação, mas sem evitar erros e até mentiras, cabendo ao leitor ter discernimento. “O lugar do jornalista mudou, mas a ética não muda e a informação de credibilidade vai manter seu espaço”, pontua.




Já o diretor de Conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, partiu do conceito de empreendimento sustentável, como força de posicionamento das organizações, para questionar como a comunicação vem seguindo estes parâmetros. As ferramentas da área deveriam ser permeadas pela crença do interesse e do entendimento público, levando em conta todos os elos sociais que intervêm no cotidiano empresarial, em uma forma dirigida de alcançá-los. “A reputação de uma empresa é seu grande valor intangível, e que, da noite para o dia, interfere em seu valor tangível de mercado”, visualiza, reputação justamente derivada da articulação de relacionamentos com as partes interessadas, internacionalmente denominadas “stakeholders”.




No cenário atual, ele constata o retorno de discussões que se julgava ultrapassadas, como o controle sobre o jornalismo e as restrições à publicidade de determinados segmentos, mostrando as polêmicas em torno da liberdade de expressão, postulado básico e alastrado pelo enfoque de colaboração da internet. Neste sentido, aumentaria a responsabilidade dos comunicadores com a verdade e com o direito à voz de mais pessoas em sua implementação. Os valores da comunicação não devem depender da plataforma, na opinião dele, alertando que, numa democracia tão jovem como a brasileira, alguns pressupostos não podem ser abandonados. E reitera: “a tecnologia não cria valores. Não podemos esquecer da dimensão humana. A tecnologia acelera as percepções”. Segundo Gandour, “o nível de inovação das novas mídias ainda é muito baixo em relação à interatividade. É um patamar muito baixo de gênese primária de informação, estando ainda muito ligadas às fontes tradicionais”.




A finalização da primeira discussão foi feita pela diretora da Polipress Cooperativa Digital, Pollyana Ferrari. Para ela, a internet é um ambiente aberto por excelência, e novas invenções surgem todo o dia. Novas ferramentas para enriquecer a experiência dos usuários os tornam interagentes, não só espectadores mas também publicadores e protagonistas. O suporte da geração e transmissão de informação não interessaria mais, mas sim a disposição de entender os movimentos da sociedade e o maior foco de apelos. Com a internet, a linguagem se simplifica e passa-se aos poucos a existir menos barreiras entre as pessoas, menos privacidade e mais intimidade. A nova mídia muda de papel e os conteúdos colaborativos explodem na rede, dando base à chamada web 2.0, com pessoas mais maduras e propositivas que transitam nos fóruns, chats, wikis, blogs e comunidades. Sites como LastFM (http://www.lastfm.com.br/) estimulam a troca de informações e o compartilhamento e assim geram conteúdos, indicadores e novos argumentos para a comunicação. Servidores de blogs, redes de colaboração, amizades e relacionamentos passam a existir diariamente em várias camadas do cyberespaço.




Aí a palestrante chega ao Consumer-Generated Media/CGM, com a mídia gerada pelo consumidor e transmitida por canais participativos, como fonte-base ou como comentários de conteúdos. Como Pollyana aponta, é um cenário de imenso CRM, um grande banco de dados público e online com as experiências e opiniões pessoais, que podem ser bem trabalhadas pela comunicação organizacional. O monitoramento das redes sociais é um trabalho urgente e ela sugere um processo humano e manual de visitação e anotações que levem a formatar as impressões virtuais e os planos de contingenciamento, com ações e reações dinâmicas. “Não adianta fazer campanha de marketing sem lastro real, porque até anúncios de supostas áreas de reflorestamento são checadas pelos cidadãos através do Google Earth”, alerta.




Outros três painéis compuseram o evento (ver textos complementares). Participaram executivos de empresas como Shell, Mercedes-Benz, Gerdau, Oi, Ampla, ArcelorMittal, Unimed, Odebrecht, Santander, Coca-Cola, IBM, Souza Cruz e muitas agências de comunicação, além de entidades como Sebrae e ainda órgãos como Previ, Ministério da Fazenda e Governo do Ceará.

AGENDA ­



Na agenda carioca da ABERJE, está marcado no dia 26 de agosto de 2008 o curso “Pesquisa para criação de Indicadores de Desempenho”, ministrado pela relações públicas Suzel Figueiredo, e no dia seguinte o 24. Encontro ABERJE Rio, organizado pelo Capítulo estadual sob direção do gerente-geral de Comunicação da Vale, Paulo Henrique Soares, ocasião em que vai ser feito o lançamento oficial do livro “Comunicação Interna – a Força das Empresas vol. 4”. Ainda estão programados na cidade os cursos “Endomarketing: Prioridades empresariais através do estratégico alinhamento interno”, com Saul Bekin, no dia 26 de setembro, e “Relatórios de Sustentabilidade GRI”, com os professores Carmen Weingrill e James Heffernan, nos dias 28 e 29 de outubro. Mais dados pelo eventos@aberje.com.br, com a agenda de outras cidades, ou no 11-3662-3990 com Carolina Soares ou Fernanda Peduto.





RP Rodrigo Cogo – Conrerp SP/PR 3674
Gerenciador do portal Mundo das Relações Públicas (http://www.mundorp.com.br/)

This entry was posted on quinta-feira, 21 de agosto de 2008. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.