O encerramento do 9. Mix de Comunicação Interna e Integrada, realizado pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, foi com o filósofo e colunista do caderno Ilustrada da Folha de S.Paulo, Luiz Felipe Pondé. Ele tratou dos desafios dos comunicadores para manter a motivação das equipes num mundo com muitas incertezas. O evento, integrado por 12 painéis, aconteceu no dia 12 de março de 2009 no Novotel Jaraguá em São Paulo/SP.
A filosofia é um repertório sofisticado de pensamento, criando um distanciamento e um estranhamento de mundo, diferente da visão tradicional que tende a achar tudo normal e a reproduzir o paradigma vigente. Talvez por isto, Pondé diz perceber um certo espanto em discutir nos meios convencionais a infelicidade ou a impossibilidade da auto-estima. Pondera, entretanto, que “as pessoas, na maior parte das vezes, estão abertas a ouvir aquilo que não as deixa felizes. Eu achava que não era assim num mundo dominado pela auto-ajuda”. Para ele, “a vida é um filme que no final é infeliz. Por isto, o ser humano tem em sua base uma inviabilidade”, o que naturalmente causa angústias, processos de negação ou alienação. Quem se mantém, tem a habilidade de conviver com a inviabilidade e viver bem. Os trabalhos foram moderados por Luiz Fernando Brandão, gerente de Comunicação Corporativa da Aracruz, que acredita que a incerteza sempre houve, o que teria mudado seria a certeza de poder controlá-la.
Nas relações sociais, segundo o pensador, precisamos enfrentar sistemas de significados poderosos, como religião, moral e política, como formatos para nos levar a um mundo melhor ou com sentido do porquê existir. As crenças religiosas passam por uma crítica contundente, com a confiança em divindades posta como um certo retardamento. Depois vem o “princípio da realidade”, em que se constata que a mãe não ama exclusivamente e que o pai não é capaz de fazer tudo que se deseja, retirando o indivíduo de um locus de conforto e aceitação. Isto traria, para o filósofo, uma desvalorização do amadurecimento, uma aversão ao envelhecimento e um permanente culto ao novo. O culto ao novo está na origem da modernidade, na lógica do capital e do avanço da tecnologia, com a definição de que o velho não presta, porque só interessa a promessa do futuro. “Uma cultura que cultua o novo exclui a própria experiência humana profunda, reforçando a baixa auto-estima”, pondera.
Por tudo isto, a experiência moral, de conduta ética, de orientação não tem eco na atualidade, porque impera agora o caos. Outro fator complicador das incertezas, tratado pelo palestrante, é o sistema político, do qual se esperaria uma ordenação, uma esperança, o que não tem acontecido e gera frustrações. Ele assinala que o conhecimento técnico-científico não nos faz agentes morais mais corretos, porque está centrado demais na idéia da eficácia, da organização. A proposta da utopia de marchar em direção ao progresso não cabe mais, porque o mundo é muito ambivalente. O comunicador instrumental seria alguém “desencantado”, indo de cético a cínico porque só manuseia objetos sem alma, como os médicos que se impessoalizam por presenciarem demais a morte.
A busca da construção da liberdade individual gera insegurança, porque as relações tendem ao efêmero e isto contradiz o projeto de felicidade permanente e traz angústia. Ele conclui dizendo que, quando se toma consciência da dificuldade de ter fé, de seguir padrões estáveis de certo e errado, de que a ciência não garante estabilidade, o grau de insegurança é alto, ainda mais na velocidade em que se é obrigado a movimentar. E complementa: “não há dúvida de que temos uma capacidade de destruir o mundo, porque a inteligência nos deixa maus. Mas a espécie humana é uma sobrevivente”. A idéia é tentar separar a esperança da idealização. A esperança é um fato, e os profissionais que fazem a comunicação circular tem a responsabilidade de mediar. Pondé reconhece que a manipulação sempre existe, e lidar com a realidade um pouco menos idealizada ajuda a ter mais consciência sobre o que cada um aceita fazer. Dizendo que “resolver o problema da humanidade inteira é um pouco hipócrita, se fizermos as coisas do nosso tamanho, aí sim”, ele arremata deixando a dúvida sobre os comunicadores - “ou serão heróis ou vilões”.
Entre os demais painéis do Mix, que reuniram mais de 80 profissionais, constaram cases de comunicação de marca do Hospital Samaritano e da Iveco, projeto de comunicação interna radiofônica da Concessionária Viapar, comunicação com o público feminino e com a diversidade por representantes da Avon, TetraPak e Vale, além da professora Ana Zampieri, e ainda trabalhos de comunicação digital da HP, IBM e Santander. Mais informações pelo 11-3662-3990 ou no bruno@aberje.com.br .
RP Rodrigo Cogo – Conrerp SP/PR 3674
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