Para blogueiros, papel não é coisa do passado


O mercado de levar posts para os livros cresceu tanto que hoje tem até editora especializada


Felipe Branco Cruz, felipe.cruz@grupoestado.com.br


Já foi o tempo em que, para se publicar um livro, era necessário enviar calhamaços de textos para a avaliação das editoras. Hoje, basta publicar um blog e torcer para que elas leiam e gostem. Rocco, Record, Panda Books e Companhia das Letras foram as pioneiras. E o que era apenas um nicho vem se consolidando em uma nova forma de descobrir talentos e, quem sabe, transformá-los em best-sellers.

É o que está fazendo, por exemplo, a novata Multifoco, editora fundada há três anos por um grupo de recém-formados da Universidade Federal Fluminense, de Niterói. Eles criaram o selo Downloads, voltado exclusivamente para a publicação de textos de blogs. Os números ainda são baixos e seria até covardia compará-los às tiragens das grandes editoras. Mas o objetivo é esse mesmo: investir em novos nomes, segundo Thiago França, um dos sócios. “Muitos autores nos procuravam, mandavam os links com os posts e percebemos que nos blogs estavam sendo publicados textos que poderiam se tornar bons livros.”

É difícil saber o que pode vingar. Afinal, há gente escrevendo de tudo, na internet ou no papel. A carioca Marina Gonçalves (marinag.blogger.com.br), de 26 anos, por exemplo, viu no blog a oportunidade de divulgar seus poemas, que escrevia desde a adolescência. “Um belo dia descobri que não era poeta, mas como o espaço já estava criado, comecei a escrever as histórias de bar que conversava com as minhas amigas”, explica. Até que surgiu o interesse da editora, Marina aceitou e, no ano passado, lançou o livro Então Tá, Bonitão. Para o papel, foram 52 posts, divididos por temas, preenchendo 120 páginas. O critério para a escolha do blog a ser publicado, no entanto, não é a quantidade de visitas diárias que o site tem. O de Marina recebe algo em torno de 200 visitas.

Fica então a questão: por que bancar publicações com tiragens pequenas de autores desconhecidos? O editor explica que a empresa paga todo o projeto e não cobra dos autores nenhum preço para imprimir. Mas, como a tiragem é pequena, eles também não distribuem os títulos em livrarias. “É um número baixo se comparado a blogs e livros famosos. Imprimimos sob demanda. Ás vezes, tiramos 40 exemplares”, explica França. “ A nossa diferença para outras pequenas editoras é que não cobramos nenhum custo dos autores e pagamos para eles 5% do preço de capa a cada exemplar vendido. Esse porcentual sobe de acordo com o aumento das vendas.”

No caso de Barbara Duffles, que mora em São Paulo, ver impressos os 100 exemplares da primeira tiragem de seu livro foi uma vitória por si só. “Acho que o livro é uma forma de eternizar a sua história. Para mim, publicar o blog é deixar uma obra palpável - e não virtual - para a prosperidade.” Barbara começou a escrever o blog Não Clique (naoclique.blogspot.com) por um interesse antagônico. “Não queria que ninguém lesse o que escrevia, tinha vergonha. Por isso o nome, Não Clique. Mas, ao mesmo tempo fica aquela sensação de voyeurismo, de saber se algum desconhecido está lendo suas intimidades”, explica. Ela perdeu o embaraço: nas 90 páginas do livro, batizado de Não Abra, estão contos, crônicas e poemas antes publicados no blog.

Já os amigos Gilberto Amendola (repórter do Variedades), Alê Duarte, Fabio Chiorino, Marc Tawl e Mauricio Duarte dos Santos, do blog Haja Saco (hajasaco.zip.net) viram no espaço virtual a oportunidade de reunir no mesmo lugar as mais diferentes opiniões. “Os temas variam de uma hipotética noite de amor com Elza Soares até um jogo de futebol com Chico Buarque”, diz Chiorino, organizador do coletânea homônima. O livro será lançado na próxima segunda, dia 6, às 19h, no Bar do Salim (R. Morato Coelho, 188), na Vila Madalena.

Há casos ainda em que a internet pode funcionar como terapia. Foi assim com Mariana Valle, do blog Sorria, Você Está na Barra (sorriavoceestanabarra.blogspot.com). Nascida e criada na zona sul do Rio de Janeiro, seu drama começou quando largou o emprego e teve de mudar para a Barra da Tijuca. “Lá, as pessoas são bem diferentes das de Copacabana, por isso escrevi o conto Sorria Você Está na Barra, para desabafar. Deu certo e continuei usando o blog para comentar fatos que aconteciam comigo,” Hoje, ela se orgulha de ter leitores - e não só internautas - assíduos tanto na Barra, quanto na zona sul do Rio.


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This entry was posted on terça-feira, 31 de março de 2009 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.