Nada se Cria, tudo se Recria. Dos primatas ao Piratas Digitais.

Os estudos e relatos da Arqueologia e da Antropologia demonstram que os primeiros habitantes da Terra viveram no período conhecido como Pré-história, anterior ao conhecimento da escrita, por volta do ano 4000 a.C. Na Idade da Pedra Lascada nossa cultura era a selvageria e a barbárie; com o avançar do tempo, entramos na cultura da civilização, ocorrida posteriormente à escrita. Isso não significa que abrimos mão da selvageria e da barbárie; elas, talvez, tenham apenas diminuído de intensidade.

Éramos nômades e nos deslocávamos de um local para o outro em busca de água e alimentos. Também não tínhamos residências fixas, buscávamos moradias provisórias, em cavernas e rochas, quase diariamente.

Todo o nosso esforço era para alcançar a sobrevivência do grupo; nesse momento criamos nossa primeira rede social. Nos dias de hoje, nossas redes estão cada vez mais segmentadas e fragmentadas, não mais procuramos a sobrevivência do grupo e, sim, as formas de se relacionar e expressar dentro deles.

Estamos, metaforicamente, vivendo em “cavernas digitais” e, em alguns casos, praticamente iluminadas pelas chamas da irresponsabilidade, como pedofilia, comércio sexual, informações privilegiadas.... A lei do mais forte prevalecia naquele passado, com o objetivo de liderar o grupo e podemos observar essa história acontecendo ainda hoje, em vários casos.

Mas, hoje, também os mais “fracos” conseguem posicionar-se e ter alguma relevância, a ponto de incomodar os grandes, sejam pessoas ou empresas, utilizando informações e mensagens na Internet, ou nas várias redes sociais.

Tínhamos naquele período uma comunicação baseada na emissão de poucos ruídos, utilizávamos pinturas rupestres nas paredes das cavernas para expressar de alguma forma nossas idéias. Agora, nas nossas “cavernas digitais”, utilizamos imagens, vídeos, música, wik, aplicativos e os mais modernos gadgets e outras tantas ferramentas desta era digital.

O objetivo das mensagens era transmitir sentimentos, trocar experiências, por meio dos desenhos, não muito diferente de hoje, quando queremos nos posicionar em grupos e expor opiniões, ter liberdade, seguir e gerar nossos seguidores.

Vamos avançar na História e dar um salto para a época áurea grega, por volta de 776 a.C, apontado como o ano oficial do surgimento dos jogos na cidade de Olímpia,embora se acredite terem surgido muito antes dessa data.

Os jogos evoluíram e, atualmente, jogamos online, em qualquer lugar, com qualquer pessoa do mundo, formamos redes para jogar. Antes os jogos nos divertiam e era puro prazer e relaxamento. Estudos mostram que espaços virtuais, como redes sociais e jogos on-line, são vitais para desenvolver as habilidades sociais que preparam nossas crianças para as futuras interações sociais do mundo adulto. Jogar transformou-se quase numa necessidade, como ir a escola. Novos tempos, novos meios....

Existem relatos de dependência e vício em jogos, como se fosse uma droga química; talvez, os governos precisem pensar em algum tipo de comunicação para esse fato, como tem sido a batalha com os vícios já conhecidos. Os pais das crianças, nos dias de hoje, precisam travar verdadeiras batalhas para tirá-los de casa, trabalhar a socialização, combater a obesidade, a depressão, a agressividade.....

Vamos dar uma passada pela Revolução Industrial que foi o momento de grandes mudanças e impacto, em nossas vidas, pois começamos um processo produtivo em escala por meio do qual superamos a agricultura e adotamos como parceira a máquina e conhecemos uma nova relação entre o capital e o trabalho, surgindo o fenômeno da cultura de massa.

Agora, convivemos diariamente com uma nova revolução que, também, surgiu por meio de máquinas, agora digitais, testando um novo tipo e análise da relação entre o capital, o trabalho e o ser humano, principalmente o seu comportamento.

As invenções e transformações na era digital são quase que diárias, numa relação semelhante ao canibalismo, em que uma tecnologia se sobrepõe a outra e a substitui ou a transforma, num ritmo acelerado e nos mostra o peso do novo poder do capital.

A diferença, talvez, é que hoje não fazemos mais aqueles trabalhos mecânicos de “apertar parafusos”, como demonstrado no belíssimo filme “Tempos Modernos” do Chaplin; a tendência atual é a de interagirmos, participarmos, dialogarmos e, acima de tudo, nos expormos; alguns conscientemente e outros, na mais pura inocência, inconscientemente. Alguns de forma até involuntária, pois não temos mais controle de nada, tudo gira em um mundo virtual, trazendo de volta a velha frase... No início era o caos... esperamos que, como na mitologia, tudo de alguma forma venha a ter algum critério, uma ética e possamos eliminar tanto lixo e sujeira da era digital e separar o joio do trigo.

Baixamos músicas, filmes, aplicativos e compartilhamos com nossa rede de contatos que replica essa troca, gerando uma reação quase infinita de possibilidades e de experiências, dentro das redes sociais.

E, por fim, chegamos à possibilidade de invadir ambientes extremamente seguros como o Pentágono e copiar informações secretas, “segredos de Estado”, e disponibilizamos na rede, gratuitamente, para acesso livre, configurando uma era em que o bom senso cada vez menos compreendido e praticado, simplesmente, não existe.

O importante é desafiar, e provar que o ser humano não tem limite gerando comentários e famas virtuais e reais, mesmo que por alguns minutos. Temos o poder de multiplicar o bem e o mal. Afinal, os fins justificam os meios? Ou os meios digitais podem representar alguma finitude ou volta para um mundo passado sem leis, lembrando dos filmes, em que abordávamos um navio em alto mar, saqueávamos, matávamos os tripulantes e ficávamos com os tesouros?

O tesouro não é mais a moeda de ouro encontrada nos baús, as terras escrituradas ou bens tangíveis, o novo tesouro é nosso “eu”, nossa singularidade, que tem o poder de impedir o “roubo”.

No mundo de hoje o valor do tesouro é relativo, uma informação exclusiva em primeira mão, um conhecimento detalhado do consumidor, em muitos casos, pode valer a sobrevivência de um negócio. No mundo digital, nossa individualização ganha um poder gigantesco, a nova ordem de riqueza é a nossa reputação, a nossa escolha. Ninguém pode roubar o nosso “eu”. Não há mais as incertezas e dúvidas mencionadas por Descartes, nos dias de hoje, “penso, logo decido”, o produto, serviços, aplicativos, músicas, tecnologia, marcas...

A ideia é refletir que tudo é uma grande releitura do passado, vista com olhos da modernidade e de forma diferenciada. Mas toda descoberta, experiência, criação... é algo cíclico, recriado sob uma nova ótica.

Compartilhar é preciso e necessário, a informação tem que circular, não há mais razão para retê-la para si; mas bom senso e ética tornaram-se o grande diferencial de cada um de nós, nesse gigantesco cyber espaço. Nós temos o poder e podemos mudar o mundo!

Regina Monge é diretora da Verts Comunicação Consultoria e Editora.
Possui mais de quinze anos quinze anos de experiência em posições de liderança nas áreas de Comunicação e Marketing envolvendo Eventos, Imprensa, Internet, TV, Propaganda e Projetos Sociais em empresas dos segmentos Editoriais, Gráfico, Negócios, Treinamento Corporativo e Agência de Propaganda e Consultoria de Mercado.

É comunicóloga, formada em Comunicação Social, com especialização em Produção Editorial pela Universidade Anhembi Morumbi; possuí MBA em Marketing pela ESPM e Extensão em História e Linguagem do Cinema pela PUC- SP.

Autora do romance “A Escolha de Cada Um”, lançado em agosto de 2010.

This entry was posted on quarta-feira, 10 de novembro de 2010 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.