Sustentabilidade: inovação ou commodity?


Clarissa Medeiros e Juliana Raposo*


A importância de construir uma comunicação coerente com as práticas de gestão das organizações, no contexto da sustentabilidade, tem sido um assunto recorrente na imprensa e tudo indica que haverá uma abertura ainda maior para o debate no meio empresarial. O longo caminho na busca pela almejada sustentabilidade parece estar aumentando a ansiedade de muitas empresas em comunicar suas “iniciativas de responsabilidade corporativa” sem o devido cuidado. Não custa dizer que especialmente nessa matéria, a pressa é a maior inimiga da excelência. Aos olhos da mídia, posturas incoerentes com a prática cotidiana têm nome: “lavagem verde” ou “prática empresarial de mudar ou acrescentar apenas alguma coisa em seu produto e se auto-declarar “ecológica” para limpar a imagem negativa que tem”, de acordo com especialistas em sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas. Diferentemente do que alguns comunicadores têm afirmado, a sustentabilidade não é uma nova commodity, porque exige um processo de mudança interdisciplinar relacionado com a gestão corporativa e com os impactos gerados pela empresa, considerando as particularidades do seu setor de atuação Os projetos socioambientais são apenas uma parte da execução da estratégia empresarial voltada à sustentabilidade. E não parece correto rotular de “sustentáveis” ações estritamente pontuais. Nesse contexto, a comunicação não é a “porta mais fácil” para que uma empresa trabalhe suas questões de sustentabilidade, mas sim o combustível para engajar os públicos estratégicos no diálogo necessário na busca pela sustentabilidade. A comunicação é, sim, uma porta estratégica para que as organizações possam compreender melhor suas questões. Neste campo, em que tudo é processo, a comunicação deve ser encarada como um desafio complexo, que começa a ser construído no início do planejamento estratégico. Segundo estudo da Fundação Dom Cabral divulgado este mês[1] 134 empresas que se auto-declaram comprometidas com a sustentabilidade – pela participação formal em grupos tais como o Índice de Sustentabilidade Empresarial da BOVESPA e Global Reporting Initiative (GRI) - foram convidadas a responder um questionário sobre a convergência de seu discurso com a prática de sustentabilidade. No entanto, apenas 30 empresas (22%) o fizeram e as respostas foram concedidas por profissionais responsáveis pela estratégia da empresa, o que demonstra os desafios que este tema suscita. Ainda que a tolerância com discursos sem respaldo na prática esteja diminuindo a cada dia, instituições financeiras e empresas do setor de serviços buscam se posicionar no tema lançando ações pontuais. É o caso, por exemplo, de uma empresa de seguros que disponibiliza postos de coleta de óleo de cozinha para reciclagem em suas unidades. Além da ação ter prazo de validade determinado, o projeto já divulgado não possui relação direta com o negócio principal da empresa. No horário nobre são veiculados comerciais que divulgam produtos “carbon free” levando o consumidor a acreditar que ao comprar o produto estará contribuindo para conter o aquecimento global, enquanto deveriam tratar de seus reais impactos, esclarecer e conscientizar para estimular uma mudança de hábitos nas pessoas. Não sendo a sustentabilidade uma nova filantropia, as empresas estão desperdiçando tempo, recursos e desgastando sua credibilidade, pagando a peso de ouro a veiculação de mensagens inadequadas que não convencem a população. Em contrapartida, surgem ações que ao serem comunicadas podem gerar interesse e participação da sociedade. No primeiro leilão público de créditos de carbono, por exemplo, realizado na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), foram negociados 808.405 créditos de carbono que representou uma receita de R$ 34 milhões para os cofres da Prefeitura de São Paulo, que promete aplicar os recursos em obras públicas, especialmente em parques, implantação de ciclovias e coleta seletiva. Comunicar a sustentabilidade não é só uma questão de informar, mas de abrir diálogo, mobilizar e comprometer pessoas a favor de causas sociais e ambientais. E a comunicação coerente é a maior aliada deste processo, porque cria condições favoráveis para a disseminação de uma cultura na sociedade a favor do desenvolvimento sustentável.



[1]. Estudo divulgado na imprensa pela Fundação Dom Cabral (novembro de 2007).

Notícia sobre o leilão público


*Clarissa Medeiros e Juliana Raposo são sócias-diretoras da Eis Comunicação, boutique de Relações Públicas voltada à Sustentabilidade dos Negócios e das Causas Sociais

Retirado do site Sabe Auditores Associados.

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Postado por Juliano Melo.

This entry was posted on domingo, 20 de janeiro de 2008. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.