Blogs e wikis desenham novas formas de relacionamento corporativo

Mais uma do portal Jumpexec.


Por Cátia Lassalvia


10.01.2008


Se eu tivesse que eleger uma única imagem para ilustrar os blogs e wikis corporativos escolheria um sistema de vasos comunicantes: água subindo lentamente, sem revoluções, mas alastrando-se por todos os espaços, achando conexões onde fosse possível. E quanto mais conexões, maior o sistema.

Essa idéia de força vinda das bases e de capacidade instantânea de se disseminar me parece a melhor imagem para explicar o impacto dos blogs e wikis corporativos atualmente. Eles vêm sem alarde, mas já atuam com uma capacidade enorme de mudar aspectos essenciais da vida corporativa: as intranets, o endomarketing, os recursos humanos, o relacionamento com consumidores, as campanhas de divulgação e a gestão de conhecimento, para citar somente alguns exemplos mais importantes.

Um primeiro ponto que merece destaque é a formação de redes sociais e de relacionamento. Nessa ‘economia da recomendação’ em que vivemos, opinar e gerar opinião são a regra da vez. O aspecto principal que faz blogs corporativos serem iguais ou melhores do que os bons sites é a capacidade de interagir e de atuar na blogosfera. De falar, retrucar e de ser falado. Ou seja: de tornar-se referência.

Muitas empresas grandes, como GM ou Banco Real, possuem os blogs de CEO, em busca de humanizar a imagem de seus presidentes e diretores. E com isso, já se desenha a primeira grande lição: blog não pode ser release. Ele é praticamente uma extensão escrita de um bate-papo. Necessita de pessoalidade e atualização constante. Ninguém gosta de falar sozinho.

O ideal é que a atualização seja diária, mas, no limite, não pode ficar desatualizado mais do que uma semana. Nesse caso, avise os usuários, com uma mensagem simpática, de que o blog terá atualização semanal, para que ele não se frustre. Lembre-se que o blog toma para si um pouco da função da intranet, pelo menos no que diz respeito à disseminação de valores e princípios da empresa e de seus líderes.

Ainda na esfera dos relacionamentos e redes sociais, os blogs têm sido um instrumento muito útil também para divulgar produtos e obter feedback. A centenária empresa americana Procter & Gamble é um ótimo exemplo de blog usado para essa finalidade. Grande parte do seu mix de produtos teve seus rascunhos criados pelos ‘prosumers’ – os consumidores que opinam, criticam e ajudam a empresa a definir seus produtos. A organização foi uma das pioneiras em abrir seus ouvidos ao que seus consumidores tinham a dizer, batizando-os de ‘advisors’, os conselheiros da marca.

Se esse for seu caminho, saiba que é necessário ir além dos blogs. É preciso um SAC 2.0, preparado para ouvir esse novo consumidor e dar respostas também ágeis e consistentes em diferentes mídias e canais. Se sua empresa não estiver pronta para isso, pondere o quanto vale ter um blog por simples modismo, pois suas demandas aumentarão consideravelmente.

Outro aspecto da revolução silenciosa dos blogs e wikis corporativos é a capacidade que têm de mudar a forma com que as empresas fazem a gestão do conhecimento. De modo bem simples, gestão do conhecimento é o processo sistemático e intencional para gerar, disseminar e reter o conhecimento gerado dentro da empresa, em seus vários níveis hierárquicos.

Como estimular e ensinar as pessoas a registrarem o que sabem? Atualmente, os blogs e principalmente os wikis vêm assumindo lentamente esse papel. No Brasil, empresas tão diferentes como Medial Saúde, Hering e Le Postiche já iniciam o uso de wikis para acumular conhecimentos e processos. Normalmente o wiki funciona por meio de uma senha, dada aos participantes pelo gestor da ferramenta.

A senha é usada para identificar o participante e também para rastrear as contribuições: quem escreveu e a que horas, sendo possível escrever de novo ou voltar a versão, em caso de erro. Em um projeto nacional, por exemplo, cada grupo regional pode abastecer a base de dados, útil a todas as partes.

Em relação ao blog, os wikis têm a facilidade de permitirem a criação de uma arquitetura de informação melhor planejada, com seções e sub-seções, o que gera uma usabilidade melhor para assuntos diversos. A maior parte das empresas combina wikis e blogs. O primero tende a ser usado para armazenar informações estruturadas e processos. O segundo torna-se um mural de recados digital.

O terceiro aspecto sobre blogs e wikis corporativos é a discussão de quanto os coletivos podem gerar uma inteligência própria, inata... Acadêmicos se debruçam sobre o estudo dos coletivos inteligentes, em busca de explicar, por exemplo, a dinâmica de comunicação e a forma de tomar decisões das formigas.

Junto com as abelhas, as formigas são sempre um exemplo das sociedades organizadas sem hierarquia, donas de uma inteligência própria e característica do coletivo. Sem CEOs, as formigas traçam estratégias de busca de alimento e de segurança baseadas na interação: o fato de um grupo de formigas voltar alimentado e de outro grupo voltar dizimado ao formigueiro indica, de cara, a rota boa ou má a ser seguida...

Se isso for um porvir do mundo racional-corporativo, como estará sendo fomentado o coletivo inteligente das empresas? Será que as redes sociais já estão desenhando um padrão de preferências e atitudes que vão além de um repositório ou simples troca de informações?

Do mesmo modo que os últimos 10 anos revolucionaram em silêncio nossos hábitos de comunicação, podemos estar participando da criação de modelos complementares ou até substitutos aos que vemos hoje nas intranets, nas ações de endomarketing e no ‘branding’ corporativo.

A água sobe em silêncio, mas se alastra com enorme agilidade. Acompanhe!

Postado por: Ramon Fernandes

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